terça-feira, 21 de março de 2017

Poesia: "Casa de taipa", um poema de Antônio Nunes

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Foto: imagem/Google

Casa de taipa

Numa casa de barro e de madeira
Vi brilhar a primeira luz do sol
O primeiro calor do arrebol
Nessa casa eu senti a vez primeira
Mãe botava eu pequeno numa esteira
Dedicando pra mim todo cuidado
Me limpando se houvesse me sujado
E se eu caísse tratava o ferimento
Toda pedra me serve como assento
E toda casa de taipa é meu reinado

Inda lembro uma vara na parede
Onde nela uma rede mãe armava
E eu deitado meu pai me balançava
Escutando a canção do punho da rede
Nesse tempo o sertão já tinha sede
E eu cresci mais meu pai indo ao roçado
E retornava mais ele do meu lado
Sob o ritmo do som da voz do vento
Toda pedra me serve como assento
E toda casa de taipa é meu reinado

Uma sala, um quarto e a cozinha
Nem por perto passou arquitetura
A comida, xerem com rapadura
Muitas vezes sequer nem isso tinha
Uma horta de coentro e cebolinha
Um jumento mancando estrupiado
E um filhote de cabra bem tratado
Dividindo com ele o alimento
Toda pedra me serve como assento
E toda casa de taipa é meu reinado

Entre as pedras do chão do tabuleiro
A galinha no ninho ovo botava
E quando o ovo saia ela cantava
Avisando as que estavam no terreiro
Solitário entre as varas do chiqueiro
Um carneiro berrava aperriado
Já prevendo que ia ser castrado
Acabando do sexo o sentimento
Toda pedra me serve como assento
E toda casa de taipa é meu reinado

Muitas vezes na esteira que eu dormia
Me acordava sentindo muita sede
E escutava nas brechas da parede
O zumbido do som da ventania
O sereno da noite que caia
Parecia deixar o chão molhado
E num buraco existente no telhado
Penetrava uma luz do firmamento
Toda pedra me serve como assento
E toda casa de taipa é meu reinado

Altas horas na noite ainda deserta
No momento em que mais sentia frio
Tinha medo e sentia um arrepio
Do cantar que a coruja à noite esperta
Me enrolava nas dobras da coberta
E descobria que havia se furado
Mas de dia mãe tinha costurado
Pra de noite eu dormir sem sofrimento
Toda pedra me serve como assento
E toda casa de taipa é meu reinado

Nessa casa de taipa do sertão
Tinha amor no depósito da fartura
Foi erguida com os braços da ternura
E argamassa da fé do coração
Um pedra enterrada nesse chão
Me ajudava a ficar menos cansado
Me deixando ficar nela sentado
Quando eu via que o passo estava lento
Toda pedra me serve como assento
E toda casa de taipa é meu reinado

Autor: Antônio Nunes
Mote : autor desconhecido.

Foto de perfil de Antonio Nunes Batista Nunesabn

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