Toda tarde vai preso novamente
Uma cena de filme no poente
Grava o Sol se deitar na cama quente
Numa cena de amor com a noite fria.
A paisagem desenha a poesia
Pra família sentada no batente
Escutando o carão dizer que sente
Uma chuva chegar desembestada.
Todo dia o Sol mata a madrugada
Toda tarde vai preso novamente.
Sem ensaio, plateia ou partitura...
No silencio da mata ainda escura
Vai a noite dormir ao som da peça.
A cantiga se forma e atravessa
A manhã da paisagem do nascente
Sem cantor, nem tenor e nem regente
Meio dia a aurora está cantada.
Todo dia o Sol mata a madrugada
Toda tarde vai preso novamente.
Faz subida pro céu e pra descer
Deixa um facho de luz pra gente ver
O bulício da força do mormaço.
Girassol aproveita o espinhaço
Pra girar sem perder a cena à frente...
Quando o Sol vai chegando ao poente
Toda flor de canteiro está virada.
Todo dia o Sol mata a madrugada
Toda tarde vai preso novamente.
Amanhece trocando a cor da roupa
No instante em que o bote da garoupa
Abocanha de vez a borboleta.
O molusco amanhece violeta
Quando o Sol liga a luz incandescente,
Se balança pra trás, nada pra frente,
Despertando a garoupa esfomeada.
Todo dia o Sol mata a madrugada
Toda tarde vai preso novamente.
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