Quando o sol causticante está a pino
O sertão mais parece um fogareiro,
Treme o sol, de tão quente, no terreiro
Sertanejo se sente pequenino,
Pela triste ironia do destino
Muito cedo se acorda de manhã
E na busca incansável, no afã,
Corre atrás à procura do seu pão,
Entristece o matuto do sertão
Quando escuta a cantiga d’acauã.
Na encosta da serra, ela lamenta,
Muita gente lhe chama de agourenta
Mas, só Deus, é quem sabe o que ela sente,
Talvez cante com pena dessa gente
Que em troca lhe tacham de vilã,
Com a seca se torna nossa irmã,
Mas seu canto nos traz desolação,
Entristece o matuto do sertão
Quando escuta a cantiga d’acauã.
É tão triste tal qual a sequidão,
E o calor escaldante do verão,
Faz a gente parar pra meditar,
Será mesmo que o canto traz azar,
Ou é coisa da nossa ideia vã?
Mas aquele que tem a mente sã,
Nos garante que é pura ilusão,
Entristece o matuto do sertão
Quando escuta a cantiga d’acauã.
É o soar dessa ave de rapina,
Que do alto no topo da colina,
Nos desola com sua cantoria,
Esse som se propaga e contagia,
Desde a encosta da serra até a chã,
Qual a força tirana de um titã
Retumbando em meio a vastidão,
Entristece o matuto do sertão
Quando escuta a cantiga d’acauã.
Pois nenhuma maldade ela contém,
Mas, é sempre tratada com desdém,
De maneira bastante equivocada,
Sem ter culpa é sempre rejeitada,
Como fosse um macabro talismã,
Rechaçada, é malvista pelo clã,
Do campônio que tem superstição,
Entristece o matuto do sertão
Quando escuta a cantiga d’acauã.
Pelo ar de tristeza no seu canto,
Pois na seca a coitada sofre tanto,
Que o lamento se torna incoerente,
Langoroso, aflitivo e renitente,
É o som que emite essa aldeã,
Admito que dela eu já sou fã,
E nem penso em mudar de opinião,
Entristece o matuto do sertão
Quando escuta a cantiga d’acauã.
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