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Salgado acredita que a fotografia tem que passar pelo papel. Foto: AFP FRANCOIS GUILLOT |
Sebastião Salgado apareceu mancando
e de muletas. O fotógrafo brasileiro rompeu o
menisco em sua última viagem à Amazônia, onde retrata comunidades indígenas
há três anos. Mas vestido de gala para receber um prêmio, sentou-se e disparou:
"a fotografia está
acabando".
O homem que imortalizou a pobreza
e a natureza selvagem em todo o mundo continua trabalhando como fazia antes:
com negativos e impressões, que revê e toca. Mas agora produz suas fotos com
uma câmera digital.
"Eu me adaptei um pouco,
como os dinossauros antes de morrer", brinca diante de um pequeno grupo de
jornalistas na entrega do "Prêmio Personalidade" da Câmara de
Comércio França-Brasil, no Rio de Janeiro.
Mas Sebastião Salgado não tem Instagram nem
"nada" disso. "Eu não gosto. Sei que os jovens gostam, mas eu
não consigo", confessa.
Às vezes, explica ele com sua voz
arrastada, olha o celular de seus sobrinhos e fica horrorizado ao ver como os aplicativos para
compartilhar fotos acabam servindo para "exibir toda a sua vida, para que
todos a vejam".
"Olha, às vezes tem fotos
interessantes, mas para fotografar você tem que ter uma boa câmera com uma
lente adaptada, tem que ter uma série de condições, a luz... não pode ser um
processo automatizado", explica.
Autor de livros antológicos, como Trabalhadores (1996), Outras américas (1999), Êxodos (2000) ou Gênesis(2013), Salgado acredita que
a fotografia tem
que passar pelo papel.
"A fotografia está
acabamos porque o que vemos no celular não é a fotografia. A fotografia precisa se
materializar, precisa ser impressa, vista, tocada, como quando os pais faziam
antes com os álbuns de fotos de seus filhos", afirma. "Estamos em um
processo de eliminação da fotografia. Hoje temos
imagens, mas não fotografias", insiste.
Salgado recorda como
nas filmagens do documentário premiado sobre a sua vida, O sal da terra (2014), a câmera que Wim Wenders e
seu filho utilizaram era a mesma que ele utilizava em seus trabalhos. "Uma
câmera não é mais uma câmera 100% fotográfica", lamenta este fotógrafo
autodidata que estudou economia.
Filho de uma geração analógica e
praticamente artesanal, o brasileiro se atreve
a prever uma data de expiração para a fotografia: "Eu não
acredito que a fotografia vá viver mais de 20 ou
30 anos. Vamos passar para outra coisa".
Mas antes que sua profecia se
cumpra, Salgado tenta
contribuir com seu grão de areia. Sua mais recente obsessão: buscar as raízes
de seu país nas comunidades indígenas
da floresta amazônica para que os mais jovens se lembrem através de exposições
em escolas e universidades.
"O Brasil é um dos poucos
países do mundo que pode conviver com sua pré-história!", diz emocionado o
artista, arqueando as espessas sobrancelhas brancas.
Embora por um tempo tenha ficado
deprimido com o que via através das lentes e acreditasse que não havia
esperança para o homem, Salgado seguiu
adiante encontrando refúgio na natureza com o seu projeto ecológico Instituto
Terra.
Agora, a meio caminho entre Paris
e Brasil, está animado com a Amazônia. Nem sua idade, nem o menisco rompido
conseguem pará-lo. "Depois disso, não sei o que vou fazer". Salgado faz uma pausa
e sorri: "Se o outro joelho não quebrar...".
Por: AFP - Agence
France-Presse
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