terça-feira, 6 de setembro de 2016

Poesia: "Visão noturna", um poema de João Luís dos Passos Gomes


VISÃO NOTURNA

Entre os sonhos que cruzam a solidão
Há milhões de mistérios incontáveis
Passamentos de dores imutáveis
Que segregam suspiros de ilusão
Como fendas partidas sobre o chão
Pássaros lindos num ninho bem forrado
A infância no berço mais sagrado
Talvez conte milagres de existência
Que se jogam nos lábios da inocência
Como flores perdidas do passado.

O luar mais bonito e cor de prata
Que derrama espumas pelo chão
Enfeitando as belezas do sertão
Atirando segredos sobre a mata
Violão, o senhor da serenata
Se partindo em suaves melodias
Mensageiros de doces poesias
Acordando os viventes do mistério
O seu som vai chorar no cemitério
Sobre os ossos que dorme em tumbas frias.

A saudade no bico das perdizes
Solta as asas no véu das madrugadas
Visitando o silêncio das moradas
É visão no olhar dos infelizes
Em chalés poeirentos, meretrizes
Se levantam das camas desforradas
Aplicando paixões desenfreadas
Sofrem iras satânicas sem razão
Palmilhando o caminho da perdição
Sem contar suas lágrimas derramadas.

Se houve o grito esquisito da acauã
O rangido dolente de um touro
E a coruja fazendo o seu agouro
Acordando o viver da noite vã
Mil cantigas de pássaros na manhã
São sinais de um dia sedutor
Ressonando na cama do amor
O segredo da vida se apavora
Lhe chamando uma voz chegou a hora
De deixar solitário o pecador.

O sorriso da lua vai roçando
Este mundo, sutil e cauteloso
Como se estivesse temeroso
De seguir pelo mundo caminhando
O poeta que fica observando
Esse quadro infinito de beleza
Ele tem no verso uma certeza
Todos são por Jesus abençoado
Vê, estático, o luar dos namorados
Enfeitando o jardim da natureza.

Nessa hora se lançam beija-flores
Muitas flores bonitas vão beijando
Vão sentindo o perfume e delirando
No desmaio da lua entre as flores
Os astros são vates sonhadores
Que exalam seus versos na amplidão
E derramam miragem pelo chão
Espelhando o perfil de seus amores
Vagalumes felizes e cantores
Que Semeiam doçuras de ilusão.

João Luís dos Passos Gomes (João Filho)
Recife – outubro de 1983

Poesias e parte do texto extraído do Livro "Antologia dos poetas Egipcienses".
- Escola Oliveira Lima -


CANTIGAS E CANTOS

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