quinta-feira, 16 de junho de 2016

Poesia: “No sertão falta água para o gado, porém sobra nos olhos do vaqueiro”, um poema de Ivanildo Vilanova


“No sertão falta água para o gado,
Porém sobra nos olhos do vaqueiro”

No sertão quando o solo está enxuto
Sofrem dois elementos de uma vez
Falta líquido pra língua de uma rês
Chovem gotas dos olhos de um matuto
Sere humano padece sofre o  bruto
O segundo bem mais que o primeiro
Se dos olhos caíssem um aguaceiro
O problema estaria saneado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro

Dá um nó emotivo na garganta
Quando a época da chuva vai embora
Sobra lágrima nos olhos de quem chora
Falta água na cova de quem planta
Se dos olhos cair não adianta
Que não enche cacimba e nem barreiro
Cresce mais a angústia e o desespero
Vendo bicho sofrer sem ser culpado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro

Se repete este drama no sertão
Fortaleza abismal dos aperreios
Os olhares humanos estão cheios
Mas os rios e poços não estão
Uma gota do céu não cai no chão
Ressecando ainda mais o tabuleiro
Muge o boi mais a água nem o cheiro
Chora o homem com pena do coitado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro

Um vaqueiro soluça de manhã
Sem ter água no poço e  na cascata
Anda até seis quilômetros com a lata
Perde a força na aventura vã
Ver tombando de sede uma marrã
Uma vaca, uma cabra ou um carneiro
E um garrote pertinho de um facheiro
A espera do liquido esverdeado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro

Ivanildo Vilanova

CANTIGAS E CANTOS

Nenhum comentário:

Postar um comentário