sábado, 18 de junho de 2016

Poesia: “No cartório da minha mocidade Registrei meu passado e fui embora”, um poema de Severino Feitosa


“No cartório da minha mocidade
Registrei meu passado e fui embora”

Quando eu terminei a adolescência
Comecei a viver a juventude
Descobri que o mundo nos ilude
Porque falta maior experiência
Mais o mapa que faz a existência
É a mão de Jesus que elabora
O que fica lamenta, sofre e chora
E quem parte carrega  só saudade
No cartório da minha mocidade
Registrei meu passado e fui embora

O registro que fiz naquele dia
Foi somente a vida da criança
Que o pai nunca recebeu herança
E o  avô muito pouco possuía
Com seis anos de vida eu já sabia
Como a mãe de família se apavora
De sarampo, bexiga e catapora
É difícil escapar com essa idade
No cartório da minha mocidade
Registrei meu passado e fui embora

Eu queria ser mais um dos ciganos
Pra pegar nesse globo sem destino
Pra contar a história de um menino
De sufoco, miséria e desenganos
Quando eu completei dezoito anos
Minha barba bem rala estava fora
E como um índio criado pela flora
Nem se quer eu tinha uma identidade
No cartório da minha mocidade
Registrei meu passado e fui embora

A história bonita que contei
É somente o trajeto de um poeta
Que não pode ser feliz e completa
Pelas coisas ruins que já passei
Tive um casamento e separei
Minha mãe hoje em dia não tem nora
E hoje eu sou um poeta da aurora
O boêmio trilhando na cidade
No cartório da minha mocidade
Registrei meu passado e fui embora

Severino Feitosa

Poesias extraídas do festival de violeiros de Itapetim-PE.  – 2005


CANTIGAS  E CANTOS

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