sábado, 7 de maio de 2016

Poesia: "Porteira velha se abrindo Faz meia lua no chão", um poema de Aluísio Lopes





"PORTEIRA VELHA SE ABRINDO
FAZ MEIA LUA NO CHÃO"

Um pro sul, outro pro norte
Um arenoso o outro barro
Que dá passagem pra carro
E ao peregrino sem sorte
Numa direção o corte
Na outra o grotilhão
Lá no fim o casarão
Dois trajetos se fundindo
Porteira velha se abrindo
Faz meia lua no chão

Passagem de retirantes
Da boiada da fazenda
Nesta passagem tem lenda
De fugas de alguns amantes
Ali tocaram rompantes
Na pega de barbatão
Foi tanto afago de mão
Seu canto rouco rangindo
Porteira velha se abrindo
Faz meia lua no chão.

Um vem abre em cortesia
O outro para e conversa
Mesmo que cheios de pressa
O portal tem freguesia
É feito o que se fazia
Ainda aqui no sertão
Passam ‘tramela’ ou cambão
Depois se despedem rindo
Porteira velha se abrindo
Faz meia lua no chão

Solitária, um som produz
De longe se escuta o baque
Num ritmado ataque
Quando o breu engole a luz
A noite manda um capuz
De negrume veste o chão
A porteira toca, então!
Um réquiem vai-se ouvindo
Porteira velha se abrindo
Faz meia lua no chão

Quando a peça de madeira
Pelo tempo se desgasta
Uma ponta se arrasta
Um traço, traça certeira
Não é uma lua inteira
Mas meia, com precisão
Não há quem faça com a mão
Um arco perfeito, lindo!
Porteira velha se abrindo
Faz meia lua no chão.

Antes, cor avermelhada
Visível acabamento
Bem posta no assentamento
Boa madeira talhada
Mais a noite orvalhada
Longos dias de verão
Deram – lhe outra feição
Cor cinza, fenda surgindo
Porteira velha se abrindo
Faz meia lua no chão

O seu cheiro foi mudado
Do cheiro de antigamente
Parafusado dormente
Muito bem parafusado
Seu cheiro é cheiro de gado
Ou mesmo suor de mão
De cada lado um mourão
Todos três num tempo findo
Porteira velha se abrindo
Faz meia lua no chão

Glosas: Aluísio Lopes
Mote de Autor desconhecido


CANTIGAS E CANTOS

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