Delírio Sinfônico
Como dúlcidos sons de trêmulas cascatas
Na quietude solene e lúbrica das matas,
Ao rolar do perfume em cálidas vertigens;
Ou o embale da folha à música da brisa
Que entre verdes ramais narcótica desliza
Como um sonho de amor no cérebro das virgens;
Assim desse teu piano os líricos descantes
Entre risos de sons fluídicos, vibrantes,
Palpitam na emoção melódica do espaço...
E a alma de Beethoven, o espírito de Verdi
Que se desmancha em sons e lânguido se perde
Num prelúdio sutil de harmônico compasso!
É o sinfônico amor do mágico teclado
Que Schubert aprendera, atônito, enlevado
No mistério dos sons que o espírito fascina...
É esse eco essencial de sílabas dispersas
Divinizando a Dor em métricas diversas
Que a Saudade interpreta e a Lágrima ilumina!
Que emoção tão sonoras tímidas soluçam
Na dor desses bemóis que nítidos se aguçam
No susto musical da síncope dos sons?
São as queixas marciais da cítara dos ventos
Espalhando no céu nevrálgicos lamentos
Que se vão desfazendo m súmulas de tons!
Como é lindo viver românticos instantes
Nas asas desses sons miríficos, radiantes
Como a flor dos cristais translúcidos do céu!
A Música é uma noiva: a palma é a sinfonia,
A grinalda nupcial! – melódica harmonia,
E os sons... são os florões simbólicos do véu!
Rogaciano Leite
Fortaleza, maio de 1946
Poema extraído do livro “Carne e alma” de Rogaciano Leite.
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