Rogando pragas
Dizia o velho
Agostinho
Que este mundo é cheio de arte
E se encontra em toda parte
Pedaços de mau caminho
Um pessoal meu vizinho,
Sem amor e sem moral,
—Atrás de fazer o mal,
Para feijão cozinhar,
Começaram a roubar
As varas do meu quintal.
Toda noite e todo
dia
Iam as varas roubando
E eu já não suportando
Aquela grande anarquia
Pois quem era eu não sabia
Pra poder denunciar,
Com aquele grande azar
Vivia de saco cheio,
Até que inventei um meio
Pra do roubo me livrar
Eu dei a cada
freguês,
Com humildade o perdão
E lancei a maldição
Em quem roubasse outra vez
E com muita atividez
Na minha pena peguei,
Umas estrofes rimei
Sobre as linhas de uns papéis
Rogando pragas cruéis
E lá na cerca botei.
Deus permite que o
safado,
Senvergonha ignorante,
Que roubar de agora em diante
Madeira do meu cercado,
Se veja um dia atacado
Com um cancro no toitiço,
Toda espécie de feitiço e
Encima do mesmo caia
E em cada dedo lhe saia
Um olho de panariço.
O santo Deus de
Moisés
Lhe mande bexiga roxa
Saia carbúnculo na coxa,
Cravo na sola dos pés,
Sofra os incómodos cruéis
Da doença hidropsia
Itericia e anemia
Tuberculose e diarreia
E a lepra da morféia
Seja a sua companhia
Deus lhe dê
reumastismo
Com a sinusite crônica
A sezão, o impaludismo
E os ataques da bubônica,
Alem de quatro picadas
De quatro cobras danadas
Cada qual a mais cruel
De veneno fatal
A urutu a coral
Jararaca e cascavel
Eu já perdoei
bastante
O que puderam roubar,
Para ninguém sensurar
Que sou muito extravagante
Mas de agora por diante,
Ninguém será perdoado,
Deus queira que cão danado
Um dia morda na cara
De quem roubar uma vara
Na cerca do meu cercado.
É o que não ouvir o
rogo
Que faço neste momento
Tomara que tenha aumento
Como correia ao fogo,
Dinheiro em mesa de jogo
E cana no tabuleiro
E no dia derradeiro,
A vela pra sua mão,
Seja um pequeno tição
De vara de marmeleiro
Patativa do Assaré
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