A garota que virou a cabeça de meio mundo, entre homens importantes e trabalhadores comuns, era, na verdade, uma libertária. Teve a coragem de romper com a hipocrisia da tradicional família mineira, cujos chefes de família pregavam a moral e os bons costumes durante o dia para se refestelar na zona boêmia pelas madrugadas.
Em seu romance, Drummond põe Hilda em meio ao turbilhão político e social que o país viveu nos anos 1950/1960. O conservadorismo cedia espaço às ideias que desembocariam no feminismo alguns anos mais tarde. De certa forma, Hilda era uma protofeminista. Apaixonou-se por Malthus, um frade dividido entre o pecado e o céu.
O jornalista José Maria Rabelo, um dos donos do combativo jornal Binômio, contou ao Estado de Minas/Diario que conheceu a polêmica Hilda pessoalmente. "A moça fazia parte da vida noturna daquela época. Estudante e jornalista, eu vivia na região dos bares Polo Norte e Mocó da Iaiá. Eram dois os grandes hotéis da noite: Maravilhoso e Magnífico. A Hilda era do Maravilhoso. Lá não havia mulheres grã-finas, pois essas ficavam em outros pontos da cidade, na Rua Uberaba e na Avenida Francisco Sales, onde era a pensão da Zezé", relembrou ele.
Testemunha ocular da ficcão drummondiana e da realidade na zona boêmia na cidade, que mereceu reportagens em O Binômio, Rabelo contou também que o escritor se inspirou em frequentadoras do Minas Tênis Clube para escrever Hilda Furacão. O veterano repórter relembrou a história de gêmeas jogadoras de vôlei daquela agremiação de elite. "As duas se tornaram amantes de Antônio Luciano Pereira Filho, o grande vilão da história", disse ele.
No palco
Em 1996, Hilda Furacão chegou aos palcos graças a Marcelo Andrade. Inicialmente, ele adaptou para o teatro o romance O grande mentecapto, de Fernando Sabino. Roberto Drummond gostou e pediu para fazer o mesmo com a história da jovem rica que se mudou para a zona boêmia de BH de livre e espontânea vontade.
Drummond acompanhou todo o processo de adaptação da peça. "Uma vez, ligou às 3h, quase na estreia. Ele estava ansioso", relembrou Andrade em série publicada pelo Estado de Minas/Diario. Apesar de seu famoso pavor de avião, o escritor viajou com os atores para diversas cidades onde o espetáculo ficou em cartaz. Para se garantir, levava a imagem de Santa Rita de Cássia, padroeira das causas perdidas.
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