Clubes de livro atraem assinantes a partir de recorte de gênero ou de propostas com conteúdo extra
Em 1973 foi lançado no Brasil o Círculo do Livro, serviço que funcionava como um "clube", criado a partir de parceria entre o Grupo Abril e a editora alemã Bertelsmann e considerado o primeiro modelo de venda de livro por "assinatura".
Os sócios (que entravam por indicação de outros já participantes) recebiam quinzenalmente uma revista com o acervo e lançamentos, e precisavam gastar uma cota mínima em compras naquele período.
Os livros eram enviados pelos Correios. Além da comodidade da entrega, o diferencial estava na qualidade gráfica do material e, principalmente, no preço abaixo do mercado tradicional.
Nos primeiros anos, o empreendimento funcionou com prejuízo, cobertos pela Bertelsmann - à época, segunda maior organização editorial do mundo. Não obstante os resultados negativos, até 1975 o Círculo reuniu 250 mil sócios, número que dobrou em 1978.
Em 1982, as vendas alcançaram cinco milhões de exemplares. No ano seguinte, foi anunciado um quadro de 800 mil sócios espalhados por quase três mil municípios e atendidos por mais de dois mil vendedores. Eventualmente, o declínio nos lucros fez com que a Bertelsmann vendesse sua parte no negócio. O impacto da decisão levou ao encerramento das atividades do Círculo no final da década de 1990.
Convidados
A iniciativa é citada por vários dos empreendedores que hoje apostam no formato. Atualmente, porém, o diferencial quase nunca é o preço (por configurações do próprio mercado editorial) nem a praticidade de receber em casa (corriqueira com a popularização das vendas pela internet). Aí entra a curadoria e os conteúdos extras.
Um bom exemplo é a TAG - Experiências Literárias (taglivros.Com), criada pelos sócios Gustavo Lembert, Tomás Susin e Arthur Dambros, de Porto Alegre (RS).
Trata-se de um clube do livro no qual os integrantes pagam R$ 69,90 mensais (já inclui frete, para qualquer parte do País) e recebem, naquele período, um kit com o livro escolhido e uma revista totalmente dedicada a ele.
Não há restrição de gêneros - de biografias a romances, passando por poesia, clássicos ou literatura contemporânea, tudo vale. A curadoria fica a cargo de convidados: as indicações são de grandes nomes de diferentes áreas do conhecimento - filósofos, físicos, artistas, sociólogos, entre outros.
O título, porém, precisa ser acessível para leigos - nada de literatura técnica, por exemplo. Todo mundo tem um livro que foi importante ou lhe marcou de alguma forma. Essa é a pergunta feita pela TAG aos curadores convidados.
Já participaram, por exemplo, os filósofos Mario Sergio Cortella e Peter Singer, o escritor e poeta colombiano Javier Naranjo e o teólogo Frei Betto. O do próximo mês, por exemplo, é o médico e ativista Patch Adams, famoso pela metodologia pouco ortodoxa de tratamento aos enfermos (Patch usa a comicidade como elemento terapêutico).
A revista que acompanha o livro traz conteúdos relacionados a ele, que podem ser dicas de filmes, artigos e curiosidades, entre outros, além de textos falando sobre o curador daquele mês. "Não tentamos fazer análise crítica, não somos professores. Colocamos conteúdos para enriquecer a experiência da leitura e diferenciá-la da tradicional", explica Lembert.
Além da revista, os sócios procuram pensar em outros elementos para compor os kits, que tenham a ver com o livro. "Neste mês o convidado foi Peter Singer e sua indicação, 'Orgulho e Preconceito', um clássico inglês. Então enviamos um conjuntinho para chá", explica Lembert.
Outra medida é a não divulgação do título a ser enviado - ou seja, o consumidor precisa confiar 100% na TAG. "Apostamos na surpresa do recebimento, no prazer da curiosidade", justifica o sócio.
Mas há mecanismos para contornar o caso de o cliente já ter lido aquele livro. Também há a opção de plano trimestral.
Balanço
Para os sócios, essas diferenças justificam o preço da mensalidade - maior do que a média de preço dos livros em livrarias. "Os assinantes não estão comprando apenas um livro, mas uma experiência, da ludicidade, da surpresa, e da leitura enriquecida pelo conteúdo da revista", comenta Lembert.
Os livros são comprados das editoras ou distribuidoras. A TAG tem contratos com algumas delas, mas nenhum garante exclusividade, para garantir que as escolhas nunca sejam definidas por esse aspecto.
Iniciado em agosto deste ano, o negócio tem, até agora, 130 associados. "Estamos 100% confiantes e satisfeitos com o produto", celebra Lembert, que também se diz impressionado com a taxa de retenção. "De todos os associados, apenas cinco cancelaram as assinaturas, e nenhum por motivo de descontentamento com o material. Era por viagem, falta de tempo pelo trabalho, por exemplo", detalha o empresário.
Segundo ele, ainda é cedo para avaliar até onde a TAG pode chegar, mas já há uma meta para 2015: "queremos chegar a mil associados", projeta o sócio.
Infantil
Outros serviços de livros por assinatura apostam em nichos específicos de público como estratégia de mercado. É o caso do Leiturinha (leiturinha.Com.Br), primeiro do País voltado a crianças (de 0 a 7 anos).
Nesse caso, uma equipe composta por pedagogos e psicólogos faz a seleção de livros mais apropriados para cada idade, e também de acordo com informações gerais fornecidas sobre a criança.
Os assinantes recebem em casa um ou dois livros, a depender do plano de assinatura, em embalagem caprichada e extremamente lúdica. A parte da surpresa de receber um livro diferente todo mês, como um "presente", contribui para gerar interesse na criança.
Iniciado em maio deste ano, com o objetivo de estimular o hábito da leitura entre crianças e propiciar momentos compartilhados entre pais e filhos, o Leiturinha entrega em todo o Brasil e já soma mais de 1.500 assinantes.
Adriana Martins
Repórter
Diário do Nordeste
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