Um dos maiores criadores da história da música popular brasileira, sua obra reúne ainda peças de teatro, musicais e romances
O escritor e cartunista Millôr Fernandes o chamou de “a única unanimidade nacional”. O cronista Rubem Braga chegou a afirmar que “ele era a coisa mais importante em matéria de música popular”. Tom Jobim encheu a boca para dizer que o amigo era um “herói nacional, salvação do Brasil, mestre da língua. Tanta coisa que nem cabe aqui”. Já a Estação Primeira de Mangueira, sua escola do coração e que o homenageou com um belo desfile na Marquês de Sapucaí, cantou em verso e prosa no seu samba antológico: “É o Chico das artes… o gênio. Poeta Buarque… Boêmio. A vida no palco, teatro e cinema. Malandro, sambista, carioca da gema”.
Quando a pianista Maria Amélia Cesário Alvim, a Memélia, deu à luz, em 19 de junho de 1944, na maternidade São Sebastião, no Largo do Machado, no Rio de Janeiro, Francisco Buarque de Holanda, o quarto dos seus sete filhos com o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, não imaginaria que aquele bebê de olhos verdes iria se tornar essa unanimidade propagada por Millôr, o poeta-gênio da verde-rosa ou o herói de Tom.
Chico Buarque, que completa 70 anos na quinta-feira e, segundo sua assessoria, vai passar o aniversário em Paris, escrevendo seu próximo livro, construiu uma trajetória que passa pela música, pelo teatro, pelo cinema, pela literatura e pela história do Brasil.
O compositor e produtor musical Hermínio Bello de Carvalho, que chegou a ser parceiro de Chico na música Chão de esmeraldas, conta que nutre grande respeito pelo artista carioca. Ele acrescenta que tem uma admiração por muitos poetas-letristas, mas a que sente por Chico o coloca num lugar privilegiadíssimo. “Quando ouço esse verso (“Teus seios ainda estão em minhas mãos”), me arrepio. Queria tê-lo feito. Mas já me basta o consolo de tê-lo como melodista de uns versos que escrevi, o Chão de esmeraldas. Parceiro! Isso me basta. Que todos os orixás o protejam, meu Chico tão amado. Já passei dos 70 há quase 10 anos. Tirei de letra”, frisa.
Autor de Chico Buarque – Tantas palavras, extensa reportagem biográfica sobre o cantor e compositor, o jornalista e escritor mineiro Humberto Werneck revela que o processo de elaboração da obra foi muito interessante e que ela chegou a ter várias edições (a primeira foi em 1989). Werneck entrevistou Chico por diversas ocasiões, além de várias pessoas ligadas a ele. “Foi uma experiência ótima, porque ele enriqueceu meu texto, nunca se opôs a nada e sempre acrescentava algum detalhe. Foi uma bela parceria”, recorda.
O jornalista mineiro ressalta os novos caminhos assumidos pelo artista. Na adolescência, o compositor de Construção queria ser escritor, o que, na maturidade, acabou se realizando. Humberto Werneck observa como Chico Buarque concilia com propriedade as duas atividades. “Quando ele resolve escrever, só escreve. E quando resolve fazer música, ele só faz música. Brinco que o Chico é um monogâmico em série. E mesmo sendo um estupendo letrista, é um cara que não se acha. Ele vai humilde e obstinadamente dando o seu recado”, defende.
Confira vídeo de Construção:
Ana Clara Brant - Diário de Pernambuco
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