Com a mente aperfeiçoada
Contando mais um gracejo
Que o povo dar gargalhada…
Uma briga de dois cegos
Que eu achei muito engraçada.
No estado das Alagoas;
Esta cena interessante
Vista por muitas pessoas
Pois eu só conto o passado
Não conto coisas atoas!
Para Rio Largo rumei
Quando saltei na estação
Para a feira me encaminhei
E lendo livros para o povo
O dia todo passei.
A feira já terminado
Eu então fechei a mala
E fiquei assim, conversando
Olhando o que se passava
E algum transporte esperando.
Um na frente o outro atrás
Talvez um guiando o outro
Por caprichos naturais
Pararam assim adiante
Junto à banca dum rapaz.
Ele calado ficou
Eles tornaram a pedir
Ele atenção não prestou,
Os cegos iam saindo
Quando o rapaz lhe falou:
Onde vão nessa jornada?
Botem as mãos para cá
Que a banca está recuada
Tomem para vocês dois
Porém a nenhum deu nada.
Um encolheu logo a mão
E disse ao seu companheiro:
— Anda para cá seu João,
Se ele te deu foi trocado
Me dá logo o meu quinhão.
Já quer me ludibriar?
Ele deu foi a você
Vá cuidar logo em trocar
Tire o seu e de cá o meu
Para a gente viajar.
Logo respondeu: seu João;
Ele deu foi pra nós dois
Não quero tapeação
O senhor já é um cego
Além de cego ladrão!
Repare bem quem sou eu,
O homem deu a esmola
Você foi quem recebeu
Agora quer tapear
Só para não dá o meu.
Pra perto foram chegando
Para ver o resultado;
E os dois cegos se alterando
O rapaz, um ar de riso
Fazendo de vez em quando.
Que gosto de andar sozinho
Tanto que eu tenho rezado
Mas meu destino é mesquinho,
Só encontro com fantasma
Cruzando no meu caminho.
Você sim que é trapaceiro
Veja bem que foi você
Que encolheu a mão primeiro
Então já está bem provado
Que recebeu o dinheiro.
Eu só puxei minha mão
Porque vi bem que o senhor
Tinha melhor condição
De receber, porque estava
Mais perto do cidadão!
Eu já sei que estou de azar,
Você recebe o dinheiro
Agora quer me enganar
Ou você me dá o meu
Ou o pau vai “trovejar”.
Diz ele serrando o cenho,
De pau eu não tenho medo
Porque pau eu também tenho
Hoje aqui vai correr sangue
Igualmente a mel de engenho.
Sai pela feira mais eu,
Recebe aqui uma esmola
Que eu vi quando o rapaz deu,
Mete toda no bisaco
E diz que não recebeu!
De raiva estava “cinzento”
Logo levantou o pau
E gritou: ladrão nojento
Tome este na cabeça
Para não ser avarento.
Com uma panela na mão,
Olhando a briga dos cegos
Com tanta admiração
Que chegava até fazer
Toda gesticulação.
Quando o cacete baixou
Bateu foi a mão na moça
Que a panela se quebrou
Em mais de vinte pedaços
Nisso o povo gargalhou!
Correndo pela calçada
Foi para casa ligeiro
Da feira não levou nada,
Ficou com a mão doente
E a panela arrebentada.
Tempo nenhum não perdeu,
Levantou logo o bastão
Gritando, lá vai o meu…
Bateu na testa de um velho
Que o sangue logo desceu.
Para não ser mais ladrão,
O outro então respondia
Aguente lá meu rojão;
Nisso rodava o cacete
Com toda força da mão.
Gente pulava e corria,
E os dois cegos danados
Fazendo grande arrelia,
Metendo o pau adoidado
Sem saber em quem batia.
Na calça de um puxou
Ele rodou-lhe o cacete,
Quando a pancada soou
Foi num carro de refresco
Todos os litros quebrou.
Não escutavam razão,
Metia o pau um no outro
Como quem tinha visão,
Porém sem enxergar nada
Toda pancada era em vão.
Pra ver os cegos brigando,
Foi na hora que um deles
O cacete ia baixando
Bateu-lhe no pé do ouvido
Que ela caiu espumando.
Já tinha banca virada
Miudezas pelo chão
Lona de corda rasgada
Mangalho por toda parte
Peça de barro quebrada.
Aguente lá meu “baião”
O homem deu a esmola
Você roubou meu quinhão,
Agora paga no pau
Para não ser mais ladrão.
Como quem está roçando
Foi nas pernas duma velha
Que ela caiu lá gritando:
Tá doido cego da peste
Repare quem vai passando!
Daqui pra noite eu lhe pego
O serviço que lhe faço
Quem me perguntar eu nego
Para você nunca mais
Roubar esmola de cego.
Que era grande a confusão
Chegou pra perto e gritou:
Epa, assim de faca não!
Eles soltaram os dois paus
Correram sem direção.
Um cidadão educado
Foi correndo ao distrito
E deu parte ao delegado
Ele veio a toda pressa
Trazendo mais um soldado.
No local da confusão
Perguntou logo: quem foi
O autor desta questão
Mostraram logo o rapaz
Um sujeito brincalhão.
Ele saiu escoltado
E lá dentro do distrito
Levou de bolo um bocado
Depois indenizou tudo
Que os cegos tinham quebrado.
Sem ver o clarão da lua
Deitado no chão molhado
Lastimando a sorte crua,
De manhã fez a faxina
Para então sair para a rua.
Não falta “cabra de peia”
É desses que enganam cegos
Ilude a filhinha alheia,
Abusa o povo e no fim
Só vai parar na cadeia.
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