A página de Raimundo já conta com
mais de 40 mil likes e é um grande sucesso nas redes sociais.
Em uma cidade grande e
movimentada como São Paulo, não são poucas as histórias de vida que se cruzam a
todo o tempo. Parado em uma esquina qualquer da cidade, sentado em um banco de
uma praça ou perambulando pelas ruas que acompanham o passar infinito de carros,
estava Raimundo. Um senhor barbudo, com roupas de plástico e aparência rude
que, surpreendentemente, escrevia algumas das mais doces poesias da capital
paulista. Mais do que um mendigo, Raimundo era poeta e, graças ao poder da
internet, pode-se dizer que ele também é um homem de sorte.
O sonho de estudar em São Paulo
se transformou em um cantinho de lona no meio da praça
Há mais de 50 anos, um jovem
sonhador saiu da terra natal com um objetivo e alguns sonhos em mente: Raimundo
Arruda Sobrinho, então com 23 anos de idade, deixou a Tocantins de sua família
para estudar na capital do estado de São Paulo. Devido às várias dificuldades
financeiras, Raimundo foi jardineiro e vendedor de livros para conseguir se
sustentar quando, em 1979, sem opções, viu a rua como o único local em que
poderia morar. Ele, então, adotou o canteiro central da avenida Pedroso de
Morais, no bairro de Pinheiros e, no mesmo lugar, viveu por 19 anos entre seus
textos e poesias.
Vestido com sacos pretos de lixo
(porque ouviu dizer que a roupa normal de tecido cria fungos e bactérias e o
deixaria com mau cheiro), Raimundo cultivava cabelos compridos e uma longa
barba que lhe serviam como uma espécie de travesseiro. Ele dormia sobre outros
sacos plásticos e lonas que artesanalmente foi costurando até formar uma
espécie de “cabaninha” e passava boa parte do
tempo sentado em um banquinho de
madeira com alguns escritos nas mãos.
Uma simples conversa foi o grande
passo para a mudança
Após anos no mesmo lugar,
invisível aos olhos indiferentes dos que passavam por ali, Raimundo teve uma
surpresa. Uma jovem chamada Shalla Monteiro decidiu olhar o morador de outro
modo e parou para conversar com ele. Foi a partir daquele momento que o
Raimundo da praça deixou de ser mendigo para se revelar poeta.
Após algumas conversas com o
senhor, Shalla descobriu que o velhinho sujo que morava na praça era culto,
conhecia literatura e música clássica. Ele falava com maestria das centenas de
livros que havia lido e ainda gostava de distribuir alguns poemas que havia
escrito para quem passasse por ele. Instigantes e reflexivas, as “mini-páginas”
que Raimundo assinava possuíam data de nascimento, número de série e uma
assinatura que dizia “O Condicionado”.
A página no Facebook se tornou um
sucesso e chegou até a família de Raimundo
Ainda impressionada com a
inteligência e sensibilidade que se escondiam por baixo da sujeira e abandono
de Raimundo, Shalla decidiu criar uma identidade para ele, após ganhar um de
seus poemas. A moça criou, então, uma fanpage para o poeta no Facebook onde
suas cartas e poesias eram postadas e compartilhadas com outras pessoas. Os
poemas de Raimundo, a essa altura, já eram famosos pelo bairro.
O que aconteceu, cerca de três
semanas depois, foi surpreendente: as poesias de Raimundo não apenas
repercutiram e alcançaram grandes proporções, como também chegaram à família
que ele não via há mais de três décadas. Francisco Arruda entrou em contato com
Shalla por meio da página no Facebook e confirmou, após anos de procura, o que
já suspeitava desde que vira aquele endereço na internet pela primeira vez:
Raimundo era o irmão que ele tanto procurou.
Abra os olhos para os Raimundos
ao seu redor
A história impressionante de
Raimundo não apenas abre os olhos para os poderes e benefícios incríveis que a
internet pode fornecer, como também atenta sobre a necessidade de comunicação e
sensibilidade das pessoas para com o próximo. Afinal, não é preciso ir até o
outro lado do mundo para fazer o bem: a solidariedade e a ternura podem ser
exercidos no dia a dia, a caminho do trabalho ou até mesmo naquela praça
movimentada que fica na esquina da sua casa e abriga um senhor de rua simples e
calado - que pode ser um outro Raimundo com alma de poeta perdido por aí.
(msn|)
Blog: O Povo com a Notícia
Via - Pajeú da Gente
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