O
pesquisador Omar Jubran tem 60 anos. Os últimos 20 ele passou às voltas com a
obra de Ary Barroso.
Entre 1994 e 2006, reuniu 316
gravações originais de músicas do compositor mineiro, fazendo ele mesmo as
remasterizações em sua casa, no bairro paulistano de Pinheiros. Desde então,
aguardou que alguém levasse o trabalho ao público.
No apagar das luzes de 2013, o
Museu da Imagem e do Som de São Paulo lançou a caixa de 20 CDs "Ary
Barroso - Brasil Brasileiro", reservando a maior parte dos mil exemplares
para doações a escolas e instituições.
Agora, a vida comercial da
empreitada está começando, com a distribuição da NovoDisc. A gravadora diz que
venderá a R$ 300 às lojas e que o preço para o consumidor pode chegar a R$ 450.
A caixa surge às vésperas dos 50
anos da morte do compositor, ocorrida em 9 de fevereiro de 1964.
Ary Barroso, compositor e pianista, em 1963
POUCOS
PRECEDENTES
"Brasil Brasileiro" é
um acontecimento raro, especial. Tem uma importância com poucos precedentes na
história fonográfica nacional.
O precedente similar é "Noel
pela Primeira Vez", caixa com 14 CDs e 229 faixas que a Funarte e a
gravadora Velas lançaram em 2000, e que vendeu mais de 10 mil unidades. Foi a
primeira missão quase impossível de Jubran, realizada em 11 anos.
"Como a caixa do Noel foi
bem recebida, achei que as coisas iam ficar menos difíceis para os projetos
seguintes. Mas não aconteceu nada. A do Ary está saindo só 14 anos
depois", diz.
O Museu da Imagem e do Som de São
Paulo diz ter investido R$ 200 mil na caixa. Para uma grande empresa privada,
seria "dinheiro de pinga", na expressão de Jubran.
Para ele, sua paga maior é quando
vê reconhecido o valor de um trabalho que organiza cronologicamente toda a obra
gravada de um grande compositor -no caso de Ary, de 1928 a 1962.
"Na cultura ou em qualquer
outro campo, tudo enseja reinterpretações, novos cuidados, mas é preciso
conhecer as origens, a raiz de onde aquilo surgiu", diz Jubran,
justificando a reunião das gravações originais, mesmo que não sejam
necessariamente as melhores.
Há raridades como, no
encerramento do 20º CD, uma faixa realizada especialmente para o projeto: a
pianista Janete Alonso interpretou "Amor Fatal", feita para uma
revista teatral em 1932 e até então nunca registrada. É uma das descobertas de
que Omar Jubran mais se orgulha.
Ele não localizou apenas cinco
músicas. Acredita que possam ter sido gravadas, mas não prensadas em disco. Em
compensação, achou registros em programas de rádio, filmes e comerciais.
Jubran
já concluiu a pesquisa sobre Lamartine Babo: 246 gravações. Falta ela se tornar
pública. Também tem pronta uma história das canções de Carnaval. E está
levantando a obra de Adoniran Barbosa.
"Noel,
Ary e Lamartine Babo são os três pilares. Eles revolucionaram a lírica da
música brasileira, que ficou mais alegre, menos repetitiva. Antes deles havia
muito 'meu amor, eu me mato'", brinca Jubran.
E
ele nem escolheu a música como meio de vida: é psicólogo de formação e foi
professor de biologia. Além de técnico de som autodidata.
"O
grande desafio são os discos de 78 rotações. Você pode consegui-los com
colecionadores, mas aí põe para tocar e, mesmo com agulha especial, eles começam
a descascar, pois são muito antigos. Posso levar um mês tratando só uma
faixa", conta.
Para
a caixa de Ary, ele contou com a generosidade do colecionador Brasilio Muniz de
Carvalho Filho, que cedeu tudo o que era preciso e morreu sem ver a caixa pronta.
Mas há a turma do "tenho e não empresto".
"Parece
que querem levar os discos para o túmulo", ironiza Jubran.
Sua
paixão pelo assunto o leva a apresentar de graça o programa semanal "Olhar
Brasileiro" na Rádio USP.
LUIZ
FERNANDO VIANNA é coordenador de internet do Instituto Moreira Salles
ARY BARROSO - BRASIL BRASILEIRO
ARTISTA Ary Barroso
GRAVADORA Novodisc/MIS
QUANTO preço ainda indefinido (caixa com 20CD’)
LUIZ FERNANDO VIANNA
ESPECIAL PARA A FOLHA DE SÃO PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário