Disponível na internet, o tributo com artistas da nova geração rearranja o repertório lado B do ídolo dos anos 80
Nada de "Codinome Beija-flor", "Exagerado", " Bete Balanço", ou qualquer dos tantos estandartes que consagraram Cazuza como o grande poeta da música de sua geração. A mais "popular" das canções do ídolo que você pode encontrar na coletânea lançada em sua homenagem, talvez seja "Down em mim", ou mesmo "Ritual", dependendo da fase do artista que se tenha mais proximidade. Mas é só.
Para os menos conhecedores da discografia de Cazuza, projeto pode soar como disco de inéditas
O disco traz já no título "Agenor", um jogo com essa face menos conhecida do artista. Não é todo fã do poeta que sabe que no batismo ele está registrado como Agenor de Miranda Araújo Neto. E para quem não for um vasto conhecedor de seu repertório, a maior parte das canções do disco "Agenor - As Canções de Cazuza", projeto da gravadora Joia Moderna com distribuição da Tratore, irá soar inédita. São, de fato, pelo menos, bastante originais.
As composições foram rearranjadas e interpretadas por artistas da nova geração, incluindo os pernambucanos China e Mombojó, muitos nomes da atual cena carioca, como o quarteto Do Amor, o músico paraense Felipe Cordeiro, e o catarinense Wado. A jovem turma independente fez uma homenagem bem mais à altura do que alguns dos medalhões que participaram do show em sua memória, no último Rock in Rio.
Ao todo são 17 grupos/artistas, cada um com uma música. O disco foi lançado no segundo semestre de 2013, ano em que Cazuza completaria 55 anos, e teve produção do DJ Zé Pedro. O projeto dá sequência a uma linha de produções da gravadora, que já havia homenageado Angela Ro Ro, Marina Lima e Péricles Cavalcanti. A curadoria do projeto ficou a cargo da jornalista Lorena Calábria.
Repertório
A escolha das canções tem uma certa predileção pelo início da carreira - com muita coisa lançada na primeira metade da década de 1980 e pouco da carreira solo. A fase, segundo justificou a curadora, é mais desconhecida inclusive pelos músicos que participam do projeto. A maioria, aliás, conhecia pouco de Cazuza, e, em geral, ouviram as canções que interpretam pela primeira vez para participar do projeto. A apropriação, talvez por isso, é tão intensa, que o resultado é um disco bastante original e capaz de dar um panorama dos artistas e da sonoridade deste início de década.

A começar pela abertura. O grupo carioca Do Amor transforma a balada "Gatinha de Rua" - gravada por Cazuza em 1985, no disco do cantor Marcelo, "Estrela do meu clip" - em uma versão de seis minutos, soturna, recheada por distorções, ruídos e efeitos. Incorpora o ambiente viciado da cidade descrita por Cazuza.
Os temas, em sua maioria, trazem esse lado "rasgado" do poeta, exagerado na paixão e no desprezo. Assim é "Culpa de Estimação", com ar estilizado das levadas dançantes de rock dos 1980; também "Vingança Boba" - música de Cazuza e Sérgio Serra gravada por Fafá de Belém, em 1993 - com melancolia exacerbada na interpretação de Domenco Lancellotti. A banda pernambucana Mombojó traz outra instigante contribuição, com "Vem Comigo", música do primeiro disco do Barão Vermelho, em arranjo que também atualiza os anos 1980, ou "Ritual", que o carioca Botika transforma em jazz com introdução ao violoncelo solo. Eis mais um mérito. Todo o disco tem esse equilíbrio entre o denso, o "down", de um Wado em "Eu ando tão Down", e o acalentado carimbó de Felipe Cordeiro, em "Tapa na Cara".
Documentário
O projeto "Agenor - Canções de Cazuza" inclui, além do disco, um documentário, de mesmo nome, assinado por Tatiana Issa e Guto Bessa. O filme, lançado também em 2013, utilizou como base os registros tomados durante a produção do tributo à Cazuza. Além do making of com os bastidores e das gravações, reúne depoimentos dos participantes. O filme consegue fugir do lugar comum deste tipo de produção, ao incluir o processo criativo dos artistas participantes, a descoberta, os erros e experimentações que levaram ao resultado final.
Confira músicas
Disco
Agenor - Canções de Cazuza
Vários rtistas
Joia Moderna
2013, 17 faixas
R$ 29,90
Fábio Marques
REPÓRTER
Diário do Nordeste
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