O medo de avião, as críticas à guitarra, os causos inacreditáveis, a paixão pelo Sport, o fascínio pela (própria?) loucura. Enfim, Ariano Suassuna está de volta ao palco, quase quatro meses depois do infarto que interrompeu as concorridas aulas. Nesta segunda-feira (16), no Teatro Beberibe (Centro de Convenções), o escritor e dramaturgo paraibano de 86 anos radicado no Recife apresenta, em sessão exclusiva para professores da rede estadual, o Tributo a Capiba, lançado em dezembro de 2012 em homenagem ao compositor de A mesma rosa amarela, Maria Betânia, Madeira que cupim não rói.“Na sexta-feira, ele comentou que estava bem animado para a volta. A expectativa é ótima”, garante Samarone Lima, assessor do titular da Secretaria de Assessoria ao Governador.
Capiba e Ariano foram parceiros de Movimento Armorial e influenciaram o trabalho um do outro. Mas, acima de tudo, eram amigos. Capiba já era músico profissional, mas mantinha o grupo Bando Acadêmico com Saulo e João, irmãos de Ariano. Apesar da diferença de idade - Capiba é de 1904, Ariano, de 1927 -, o paraibano ganhou uma confiança tal que o compositor sempre mostrava as músicas para avaliação.
Eles brigaram uma única vez, por causa de futebol. Os dois dividiam o fanatismo, mas Capiba era torcedor do Santa Cruz. Já Ariano é um dos mais famosos e ilustres torcedores do Sport, que retribuiu em setembro, com camisa dedicada a ele com a inscrição “Felicidade é ser Sport”.
“Ele chegou lá em casa insuportável e começou a cantar goga e aí eu fui perdendo a paciência”, contou, sobre o dia em que o Santinha foi supercampeão, em entrevista ao Viver sobre o espetáculo. Neste dia, Capiba apresentou a música O mais querido, uma espécie de hino secundário do time, mas os dois discutiram, Capiba foi embora e Ariano foi atrás, para fazer as pazes. E o autor de O auto da Compadecida deu o braço a torcer e escolheu as cores vermelha, preta e branca para o cenário.
A história é um dos muitos causos presentes na aula, sempre garantia de boas risadas. “Todo ano, ele dizia a mim ‘Olha, o melhor time esse ano foi o Santa Cruz’. Nunca foi exceção. ‘Agora os jogadores dos outros times não deixam o Santa Cruz jogar’”. Antes do hiato, a aula costumava ter críticas às cantoras Lady Gaga e Joelma. Mas, em se tratando de Ariano, sempre podem vir surpresas. Em algumas das apresentações, o tempo de duração, inicialmente previsto para uma hora, dobrou. O romancista teve alta médica há 15 dias e não tem nenhuma queixa em relação à sua saúde.
Além das histórias, vividas ou não com o músico, Ariano apresenta composições menos famosas de Capiba, conhecido principalmente pelos frevos, mas também autor de choros, sambas, valsas e sinfonia. No palco, ele é acompanhado por cinco músicos e cinco bailarinos.
Diário de Pernambuco
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