Vitor Ramil está longe dos
holofotes do showbiz, mas passeia firme pelo gosto de músicos da MPB
Nem acabou de sair, mas já está entre os
melhores discos deste ano. Foi no mês que vem (Satolep), songbook com o resumo
da obra de Vitor Ramil, crava a milonga no coração da música brasileira. Aos 51
anos e 33 de carreira, o “cantautor” gaúcho raramente toca nas rádios. Sua
música não embala cenas de novela, mas ele está na boca de Ney Matogrosso,
Milton Nascimento, Gal Costa, Zizi Possi, Katia B e de Cássia Eller - para não
dizer de celebridades do Cone Sul, como o uruguaio Jorge Drexler e os
argentinos Mercedes Sosa e Pedro Aznar.
Vitor tinha tudo para se dar bem nos grandes palcos. Muito jovem, trocou Porto Alegre pelo Rio de Janeiro e gravou o primeiro álbum aos 18 anos: Estrela, estrela, com arranjos de Egberto Gismonti e Wagner Tiso. Inquieto, o gaúcho não demorou a desafiar a poderosa indústria fonográfica. Queria preservar o repertório das influências do mercado oitentista, que já substituía o BRock e a MPB pelo tripé pagode-sertanejo-axé.
Vitor tinha tudo para se dar bem nos grandes palcos. Muito jovem, trocou Porto Alegre pelo Rio de Janeiro e gravou o primeiro álbum aos 18 anos: Estrela, estrela, com arranjos de Egberto Gismonti e Wagner Tiso. Inquieto, o gaúcho não demorou a desafiar a poderosa indústria fonográfica. Queria preservar o repertório das influências do mercado oitentista, que já substituía o BRock e a MPB pelo tripé pagode-sertanejo-axé.
Sob o calor senegalês de Copacabana - em pleno
inverno -, caiu a ficha do jovem Ramil: o Brasil é rico demais para se resumir
à estética tropical. A brasilidade também está na música do Sul, com milongas,
tangos e ritmos que marcaram o cancioneiro pré-bossa nova. De volta à Pelotas
natal, onde mora desde 1992, o gaúcho engendrou sua estética do frio. A milonga
é soberana na obra de Vitor. Foi no mês que vem traz “puro-sangue” e canções
tecidas sob sua inspiração.
Com o violão, essa prenda - comumente associada ao estereótipo gauchesco - ganhou contornos urbanos. Suavizou-se e se fundiu a Bob Dylan, John Lennon, à batucada do carnaval pelotense e também ao samba, ao rock e à MPB. A bossa nova de João Gilberto e o Clube da Esquina também têm espaço soberano nesse pampa.
Produção independente, o songbook traz 32 faixas revigoradas pela obsessiva busca de Vitor pela versão ideal, não importa se as canções dos nove discos surgiram há dois ou 30 anos. Diz ele que a milonga Deixando o pago atingiu o formato definitivo agora, depois de figurar em dois discos. Acostumado a “remoer” as crias, confessa: “Sou o meu próprio rádio”. As canções ressurgem com novas sonoridades, despidas de arranjos que ficaram datados. “Joguei todas as fichas na maturidade”, explica, distanciando-se do culto à juventude que transforma bons artistas em eternos covers de si próprios, prisioneiros de antigos hits.
O relicário de reinvenções contou com uma constelação de craques. Do violonista argentino Carlos Moscardini ao uruguaio Jorge Drexler. O cantor Ney Matogrosso explora tons inusitados de sua voz em Que horas não são?, emocionando Vitor pela generosidade. Contribuições gaúchas vieram de Ian Ramil, que dividiu com o pai a romântica Passageiro, e de Bella Stone, em Noturno. Os irmãos Kleiton e Kledir se juntam ao caçula, à Orquestra de Câmera do Theatro São Pedro e a Moscardini em Noite de São João, poema musicado de Fernando Pessoa.
Parceria com Milton Nascimento
“Quando Milton canta uma canção minha, é como se ela chegasse a seu destino”, diz Vitor Ramil. Aos 13 anos, o pirralho gaúcho tentava imitar os vocalises do disco Minas. Foi assim que aprendeu a descobrir a própria voz. Vitor chama Bituca de seu professor de canto. Conta que cortou um dobrado para se “livrar” do mestre. Não queria ser o Milton dos pampas. Só depois as lições de Caetano Veloso e de João Gilberto entraram em sua história.
Meninote, Vitor foi a um show em Pelotas tietar o mineiro, lá pelos anos 1970. Na maior cara de pau, convidou-o a ficar em Porto Alegre para ver os irmãos, Kleiton e Kledir, cantarem com Caetano Veloso na semana seguinte. Milton ficou. Mais de 30 anos depois, durante as gravações do songbook do “ex-aluno”, Bituca garantiu: só prolongou a estadia por causa daquele convite. O discípulo agradece: “Milton, querido, obrigado pela tua voz e pela minha”.
Com o violão, essa prenda - comumente associada ao estereótipo gauchesco - ganhou contornos urbanos. Suavizou-se e se fundiu a Bob Dylan, John Lennon, à batucada do carnaval pelotense e também ao samba, ao rock e à MPB. A bossa nova de João Gilberto e o Clube da Esquina também têm espaço soberano nesse pampa.
Produção independente, o songbook traz 32 faixas revigoradas pela obsessiva busca de Vitor pela versão ideal, não importa se as canções dos nove discos surgiram há dois ou 30 anos. Diz ele que a milonga Deixando o pago atingiu o formato definitivo agora, depois de figurar em dois discos. Acostumado a “remoer” as crias, confessa: “Sou o meu próprio rádio”. As canções ressurgem com novas sonoridades, despidas de arranjos que ficaram datados. “Joguei todas as fichas na maturidade”, explica, distanciando-se do culto à juventude que transforma bons artistas em eternos covers de si próprios, prisioneiros de antigos hits.
O relicário de reinvenções contou com uma constelação de craques. Do violonista argentino Carlos Moscardini ao uruguaio Jorge Drexler. O cantor Ney Matogrosso explora tons inusitados de sua voz em Que horas não são?, emocionando Vitor pela generosidade. Contribuições gaúchas vieram de Ian Ramil, que dividiu com o pai a romântica Passageiro, e de Bella Stone, em Noturno. Os irmãos Kleiton e Kledir se juntam ao caçula, à Orquestra de Câmera do Theatro São Pedro e a Moscardini em Noite de São João, poema musicado de Fernando Pessoa.
Parceria com Milton Nascimento
“Quando Milton canta uma canção minha, é como se ela chegasse a seu destino”, diz Vitor Ramil. Aos 13 anos, o pirralho gaúcho tentava imitar os vocalises do disco Minas. Foi assim que aprendeu a descobrir a própria voz. Vitor chama Bituca de seu professor de canto. Conta que cortou um dobrado para se “livrar” do mestre. Não queria ser o Milton dos pampas. Só depois as lições de Caetano Veloso e de João Gilberto entraram em sua história.
Meninote, Vitor foi a um show em Pelotas tietar o mineiro, lá pelos anos 1970. Na maior cara de pau, convidou-o a ficar em Porto Alegre para ver os irmãos, Kleiton e Kledir, cantarem com Caetano Veloso na semana seguinte. Milton ficou. Mais de 30 anos depois, durante as gravações do songbook do “ex-aluno”, Bituca garantiu: só prolongou a estadia por causa daquele convite. O discípulo agradece: “Milton, querido, obrigado pela tua voz e pela minha”.
Diário de Pernambuco
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