quinta-feira, 6 de junho de 2013

LUTO: César Leal, um mentor a serviço da poesia

Dono de uma obra conscientemente complexa, autor era reconhecido pela capacidade de análise / Alexandre Belém/JC Imagem

Poucos nomes da cena literária pernambucana alcançaram a dimensão do poeta, professor e crítico César Leal, que faleceu ontem pela manhã, aos 89 anos, em decorrência de falência múltipla dos órgãos, depois de uma longa luta contra o câncer. O cearense nascido em uma fazenda na cidade Saboeira e radicado no Recife foi fundamental não só por sua poesia, mergulhada na tradição e na modernidade, e nem apenas pelo vigor dos seus ensaios. Tão grande quanto essas marcas era o seu papel de mentor e incentivador de mais de mais de uma geração de poetas e escritores do Estado.
Antes de chegar ao Recife, na década de 1950, o jovem que saiu do interior rodou uma boa parte do Brasil: de Manaus ao Rio de Janeiro e Minas Gerais, iniciando nessas viagens a sua formação literária. Logo que aportou aqui, conheceu Mauro Mota e enviou para o poeta, então editor do Suplemento Literário do Diario de Pernambuco, quatro versos seus para que um fosse escolhido. Mota publicou todos e o convidou para trabalhar com ele.

César assumiria o posto do colega em 1960. Usaria as páginas do suplemento e o prestígio como professor de Letras da Universidade Federal de Pernambuco – foi um dos fundadores da pós-graduação de Teoria da Literatura – para publicar quase todos os autores da Geração 65, como Alberto da Cunha Melo, Jaci Bezerra, Ângelo Monteiro, Domingos Alexandre, Marcus Accioly, Lucila Nogueira, Marco Polo Guimarães e Raimundo Carrero.
César Leal: um nome inscrito na literatura. O Recife perde o intelectual sensível, torna-se mais pobre na capacidade de criar e analisar com maestria obras de autores diversos. (...) Dele podemos asseverar: um humanista completo
Fátima Quinta, escritora e presidente da APL
Tanto no jornal como na revista Estudos Universitários, que lançava pequenos volumes de vários autores, atuou dessa forma. A crítica literária Dulcinea Santos, autora de Entre a vigília e o sono: o processo criador em César Leal, destaca que o autor foi “um gênio, poeta maior e crítico aguçado”. No livro, ela analisa o poema O sonâmbulo, além de reunir poemas em homenagem ao cearense, de nomes como Ariano Suassuna e Marcus Accioly.
A produção em versos de César, ele afirmava, era algo obscura. “Minha poesia é realmente difícil. Não escrevo para ‘los muchos’, digo em um de meus poemas. Escrevo para poucos e continuarei assim. A poesia é uma arte muito séria e costumo tratar o poético com seriedade”, afirmou certa vez. Como crítico, sabia reconhecer a poética moderna, mas pesquisava a fundo a obra de Dante, sua principal referência, e Camões.

Durante a vida, César ganhou diversas honrarias literárias. Fazia parte da Academia Pernambucana de Letras, na cadeira de número 23, e foi agraciado em 2006 com o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. Além disso, suas obras foram traduzidas para diversos idiomas.

JC Online

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