O poeta José Gomes do Amaral (Zezé
Lulu) nasceu em 04 de dezembro de 1916 no Sítio Serrinha, distrito de São José
do Egito - PE. , filho de Luiz Ferreira Gomes e Maria José de Santana, ambos agricultores.
Com apenas 6 anos de idade,
Zezé Lulu já assistia às noitadas de cantoria do poeta Antônio Marinho, seu tio
por afinidade, quem mais tarde teria como referencial poético.
O pai, um grande incentivador,
diria querer realizar o sonho do filho nas cordas da viola e no verso do
repente.
Iniciou sua carreira em 1940,
quando de sua primeira cantoria na residência do Sr. José Bento, Sítio
Serrinha, lugar onde nasceu, com o cantador Amaro Bernardino, também filho da
região.
Refere-se as belezas das
coisas do sertão como fonte de inspiração.
Casou-se no ano de 1937 com
Laura Gomes dos Anjos, com quem teve duas filhas: Maria Zélia Gomes e Maria
Rosélia Gomes, mãe de João Vinicius do Nascimento e José Gomes do Amaral Neto,
este acredita-se, herdou o talento do avô.
Zezé Lulu era analfabeto. Não
publicou livro. Foi premiado em vários concursos poéticos. Deixou apenas um
cordel em parceria com Manoel Xudú Sobrinho.
Sua
primeira poesia:
A
noite estava dormindo,
Canta
o galo dando hora
Me
levantei saí fora,
A
lua vinha saindo.
Aquele
clarão tão lindo
fiquei
prestando atenção
Pensei
em forrar o chão,
E
me deitar na calçada,
Vendo
a lua debruçada,
Na
janela do sertão.
Lá
dentro do meu baixio,
Tem
um pé de goiabeira,
Eu
na sombra não confio,
Vou
dormir lá na mangueira,
Tem
mais um pé de jaqueira,
perto
de um pé de mamão,
E
de banana pão,
Por
entre a folha rasgada,
Vendo
a lua debruçada,
Na
janela do sertão.
Em
cantoria com João Severo que termina um verso assim:
“Você
é muito poeta,
Porém
não tem ciência..
“Esta
palavra ciência,
Deus
a mim não concedeu
A
minha mão não escreve
Minha
boca nunca leu
Mas
vivo estudando os livros
Que
a natureza me deu”.
“Eu
admiro a aranha,
Pela
casa que constrói
Cavar
no chão um buraco,
Para
aquele que lhe apoe
E
botar-lhe uma tampa,
Que
nem a chuva destrói”
TRECHOS
DE PELEJA. COM MANOEL XUDÚ:
*Nasci
e crie-me no alto sertão
Porém
inspirado por Deus verdadeiro
Fui
ver sua obra no dia terceiro
Que
a Bíblia prova pela criação
O
grande oceano onde embarcação
De
todos os tipos por lá vi passar,
Aluguei
um barco para passear,
Naveguei
de bote, barcaça e piroga,
Cantador
pixote teimando se afoga
Se
entra comigo nas águas do mar.
**O mar se orgulha por
ser vigoroso,
Forte
gigantesco, que nada lhe imita,
Se
ergue, se abaixa, se move, se agita,
Parece
um dragão feroz e raivoso
É
verde, azulado, sereno, espumoso,
Se
espalha na terra, quer subir pro ar,
Se
sacode todo querendo voar
Retumba,
ribomba, peneira e balança,
Nem
sangra, nem seca, nem pára, nem cansa
São
estes os fenômenos da beira do mar.
*O
vasto oceano enorme e profundo,
Até
com o céu quer ser comparado,
Sendo
ele verde, o céu azulado,
O
céu é tão alto, e ele tão fundo,
No
céu tem um Deus, sábio budibundo,
Que
em todos seres pode dominar;
No
mar tem netuno, manobrar
Peixes,
nereidas por todos os cantos,
Deus
manda nos anjos, nas virgens, nos santos,
No
vento, no fogo, na terra e no mar.
*Zezé Lulu
**
Manoel Xudú
Fonte: Livro
"Antologia dos Poetas Egipcienses"
- Escola Oliveira Lima -
Cantigas e Cantos
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