Para um observador
desavisado, a impressão é a de que Pernambuco necessita de nomes de mulheres
que se imponham entre os grandes poetas. Mero engano!
Na realidade, a nossa crítica
literária tem esquecido, injustamente, muitos valores expressivos da poesia
feminina pernambucana. Com essa mostra, o Sesc Santa Rita destacou um grupo de
nomes que se encontram entre nossas melhores poetisas.
O destaque, entre as oito
artistas, além de seus belos e qualificados poemas, são as performances e as
diferenciadas vozes, indo das líricas, de diapasões diferentes, às melodiosas,
encantando o público.
Para não me alongar muito,
falarei hoje, das poetisas do sertão e no próximo artigo desta coluna, das
magníficas poetas do Vozes Femininas.
As poetisas do Sertão do Pajeú,
coincidentemente, representam também geograficamente aquela região, que é berço
da poesia. Cada uma de uma cidade diferente. Isabely Moreira (S. José do Egito),
Mariana Teles (Tuparetama), Monique D’angelo (Itapetim) e Verônica Sobral
(Tabira). Esse grupo comprova a teoria de que “o homem é produto do meio. ”Suas
poesias são recheadas de emoção e simplicidade, com um refinado gosto pelas
tradições do Pajeú. Fazem poesia da mais alta qualidade! Elas são um assombro
de talentos em poesia. Certamente, ainda vão dar muito o que falar!
Verônica Sobral, de uma poesia
bela, comunicativa, encontrou no soneto uma de suas formas preferidas de
expressão. Obrigatoriamente incluído em qualquer seleção no gênero.
Monique D’angelo, que além de
poetisa é cantora e sanfoneira, é uma artista completa. Seus poemas resgatam a
mais pura poesia sertaneja. Estou certo de que, além dos belos poemas, ela nos
reserva composições que trarão surpresas.
Isabely Moreira poetisa que toca
nossa sensibilidade com poemas belos, românticos e líricos, preservando,
sobretudo, as raízes sertanejas e um lindo sotaque nas declamações.
Mariana Teles é uma poetisa como
as demais, neo-romântica, de expressão moderna. Privilegiada pela genética, por
ser filha de um dos maiores repentistas da atualidade, preza pela capacidade de
criar ao estilo mais bonito dos grandes poetas repentistas, contando situações
do cotidiano sertanejo e de sua gente. Uma poetisa cheia de belas inspirações.
Essas, entretanto, permanecem
ouvindo o silêncio, um injustificado silêncio, dos órgãos de cultura de nossa
terra. Com isso, eles nos privam de conhecer e ouvir os versos tão cheios de
belezas que elas têm para nos presentear.
E aqui fica uma pergunta aos
nossos editores e promotores culturais: porque não editar uma obra dessas feras
e não contratá-las para os eventos culturais de todo o Estado de Pernambuco?
Certos antolhos, com suas estreitas convenções vêm sufocando o que de melhor
existe em nossa literatura.
Para deleite de nossos leitores,
selecionei um poema de cada uma dessas geniais poetas, o que não foi fácil,
pois todas têm excelentes repertórios.
Isabelly Moreira - Destaque da poesia Egipciense Contemporânea
SENTI
-LOS
Isabelly Moreira
Isabelly Moreira
É
preciso extrair a pura essência
Existente em nós e em nossas vidas,
Pois assim sentiremos resistência
Ao encontrarmos sensações perdidas.
Existente em nós e em nossas vidas,
Pois assim sentiremos resistência
Ao encontrarmos sensações perdidas.
Enxergar
o escuro em transparência,
Ouvir o som nas notas produzidas.
Saciar o sabor da existência,
Cheirar a luta nas canções contidas.
Ouvir o som nas notas produzidas.
Saciar o sabor da existência,
Cheirar a luta nas canções contidas.
Tocar
a alma, a forma, o instrumento.
Amar a vida, a fé e o sentimento,
Que é necessário para prosseguir…
Amar a vida, a fé e o sentimento,
Que é necessário para prosseguir…
Pois,
se não houver sonhos construídos,
Qual o sentido em ter os sentidos
E não usá-los pra saber sentir?
Qual o sentido em ter os sentidos
E não usá-los pra saber sentir?
Mariana Teles - Semente da poesia Pajeuzeira
“ENGANO”
Mariana Teles
Mariana Teles
Uns foram puros,
outros pecadores
Do mais antigo, ao mais recente.
Uns que chegaram carregando dores…
Outros, que deixaram dores de presente.
Do mais antigo, ao mais recente.
Uns que chegaram carregando dores…
Outros, que deixaram dores de presente.
Alguns passados,
que hoje tristemente,
Eu os cultivo entre os ”traidores”.
No verso antigo, no buquê de flores.
A prova viva que quem jura mente.
Eu os cultivo entre os ”traidores”.
No verso antigo, no buquê de flores.
A prova viva que quem jura mente.
Alguns reais,
outros, fantasias.
Uns duraram anos, outros poucos dias.
E todos levaram um pouco de mim…
Uns duraram anos, outros poucos dias.
E todos levaram um pouco de mim…
Partiram todos os
que eu julguei
Amar, mas no fundo eu não os amei…
Todos começaram na hora do fim.
Amar, mas no fundo eu não os amei…
Todos começaram na hora do fim.
Verônica Sobral - Diva da poesia Tabirense
“O FIM DO NOSSO AMOR”
Verônica Sobral
Verônica Sobral
Quantos beijos de
amor silenciaram
Nossas brigas, por vezes, tão pequenas.
De tornar nossas noites mais serenas
Nossas brigas, por vezes, tão pequenas.
De tornar nossas noites mais serenas
Os
desejos também se encarregaram.
As estrelas do céu,
em noites plenas,
Tantos planos e sonhos registraram…
No entanto, esses sonhos se acabaram
Tantos planos e sonhos registraram…
No entanto, esses sonhos se acabaram
Num
silêncio feroz de um “não” apenas.
Numa noite
tristonha… só de dores,
A saudade passou jogando flores
No dilúvio das lágrimas que choramos.
A saudade passou jogando flores
No dilúvio das lágrimas que choramos.
Nosso peito
infeliz, dilacerado
Percebeu que havia terminado
O velório do amor que assassinamos!
Percebeu que havia terminado
O velório do amor que assassinamos!
Monique D'ângelo - Orgulho de Itapetim |
A
SAUDADE PASSOU ARREBENTANDO
O PORTÃO DE ENTRADA DO MEU PEITO.
Monique D’angelo
O PORTÃO DE ENTRADA DO MEU PEITO.
Monique D’angelo
A
lembrança que vem me atormentar
É um cheiro enlaçando a minha vida.
Um desejo maior que a dor sentida
Vem à noite e não deixa eu cochilar.
Sem querer eu me vejo a recordar…
Uma dor quer passar e não tem jeito.
O meu peito querendo dar defeito
E você tá aos poucos me matando…
A saudade passou arrebentando
O portão de entrada do meu peito.
É um cheiro enlaçando a minha vida.
Um desejo maior que a dor sentida
Vem à noite e não deixa eu cochilar.
Sem querer eu me vejo a recordar…
Uma dor quer passar e não tem jeito.
O meu peito querendo dar defeito
E você tá aos poucos me matando…
A saudade passou arrebentando
O portão de entrada do meu peito.
E não sente vontade de me ver.
Por você, sem querer, vivo a sofrer
E tentando encontrar outro carinho.
Você quis seguir só o seu caminho
E eu vou procurar outro sujeito.
Um amor tão bonito foi desfeito
E eu vivo meu pranto derramando…
A saudade passou arrebentando
Jornal
Besta Fubana
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