
Gilmar Leite Ferreira é poeta/declamador e professor da Arte e Educação da UFPB,
campus IV, Litoral Norte. Nascido em São José do Egito, às margens do rio Pajeú,
no Sertão de Pernambuco, desde o começo da adolescência o poeta começou a ouvir
as cantorias de violas. Foi vivendo, ouvindo e lendo poetas como, Rogaciano
Leite, os irmãos Batistas (Lourival, Dimas e Otacílio), Job Patriota, João
Batista de Siqueira (Cancão), Pinto do Monteiro e uma infinidade de poetas
repentistas, que Gilmar Leite Ferreira cresceu e se fez poeta.
A região do Pajeú, mas especificamente São
José do Egito, vem desde o século passado vertendo uma quantidade
impressionante de poetas com qualidades inquestionáveis.
A rede Globo e outras emissoras de televisão
já fizeram várias reportagens e exibiram a nível nacional, mostrando a magia
poética de uma cidade conhecida como “A Terra Imortal da Poesia”. Foi vivendo
nesse clima de poesia que Gilmar Leite Ferreira se fez poeta através do gen
cultural da sua terra. Com três livros publicados, sendo os dois primeiros
(LIBERTAÇÃO E ÊXTASE), editados pela Companhia Editora de Pernambuco (CEPE), e
o terceiro (NASCIMENTO), através da Editora Seven System International, com
sede em São Paulo.
Além de
se mostrar como poeta escritor e palestrante, Gilmar Leite Ferreira é um notável
declamador. Quem já ouviu e assistiu o poeta nos palcos e em saraus fica
emocionado com a sua força interpretativa ao declamar. O poeta já participou de
vários recitais pelo nordeste afora, e já fez parte de comissão julgadora nos
festivais de poetas repentistas várias vezes, sendo que em algumas ocasiões
como presidente da comissão julgadora. A sua atividade de declamador já o levou
a fazer apresentações em shows de cantores como Maciel Melo, abertura de
espetáculo da banda pernambucana “Cordel do Fogo Encantado” e outros eventos
promovidos pelas escolas públicas, particulares, universidades e outros espaços
onde acontecem eventos culturais.
O poeta é
parceiro de alguns compositores, entre eles Sales Rocha (conterrâneo) e Galvão
Filho (potiguar). Com Sales Rocha, Gilmar Leite Ferreira fez a composição
“Coração Corsário”, defendida por Sales Rocha no Festival de Música Popular no
Pajeú, ocasião em que ficou em terceiro lugar classificado pela comissão
julgadora e em primeiro lugar por meio do voto popular. Com o compositor Galvão
Filho tem várias parcerias. No CD de Galvão Filho, “Achados e Perdidos” existem
03 composições em parceria, as quais são: Ser Poeta, Canto Vital e Alma
Sertaneja. A música Saudade de Marcolino, em parceira com Galvão Filho, foi
gravada no CD “Forró de Abraçar” pelo Cantador Santana.
Como
pesquisador na área da Educação e Filosofia, Gilmar Leite Ferreira concluiu no
ano de 2010, na UFRN, a Dissertação “Corpo e Poesia: para uma Educação dos
Sentidos”. Em 2013, na mesma universidade, Gilmar Leite Ferreira defendeu a
Tese de Doutorado “O Sertão Educa”, trabalho este envolvendo Educação,
Filosofia, Literatura, Antropologia, Poesia, Geografia e Biologia.
Hoje,
Gilmar Leite Ferreira reside em João Pessoa e tem projetos para publicar seus
trabalhos de pesquisa (Dissertação e Tese), livros de poesias e um cd
intitulado: “Águas do Pajeú”, com poemas declamados e participações de cantores
interpretando algumas parcerias com Galvão Filho.
Texto por Gilmar Leite

Vi nas gotas de orvalhos cristalinos
Alguns
prantos da flor que emurchece.
Suas
pétalas tristonhas, sem ter água,
Se
desfez dos belíssimos fulgores,
Cada
pingo dos olhos eram as cores,
Se
apagando no pé da triste mágoa.
A
tristeza voraz causava frágua
Como
alguém que, maldoso, lhe dissesse:
Hoje
a vida pra você arrefece,
Só
lhe resta o mais triste dos destinos,
Vi
nas gotas de orvalhos cristalinos
Alguns
prantos da flor que emurchece.
Borboletas
voavam pelos campos
Assustadas
faziam vira-volta;
A
tristeza da flor dava revolta
Até
mesmo aos calmos pirilampos.
Ela
só tinha a frente os escampos
Onde
a vida perdura e esmorece,
No
deserto da angústia que entristece
A
beleza que tem seus toques finos;
Vi
nas gotas de orvalhos cristalinos
Alguns
prantos da flor que emurchece
Até
mesmo um pequeno beija-flor
Que
voava em busca de uma essência,
Fez
um pouso com lírica cadência
Vendo
a flor com tristeza, sentiu dor.
Procurou
com seu bico dar amor
Lhe
beijando e dizendo a vida cresce;
Não
se curve, que a dor desaparece,
Tenha
fé nos poderes mais divinos,
Vi
nas gotas de orvalhos cristalinos
Alguns
prantos da flor que emurchece.
Saudade do Tempo de Menino
Na
caverna profunda da memória
Lembro
a vida florindo inocência
Não
sabia do negror da consciência
Expressado
nos dramas da história.
Minha
vida só tinha a flor da glória
Era
um mundo coberto de bonança,
Onde
o sol da bondade numa dança
Me
cobria com um brilho cristalino;
A
saudade do tempo de menino
Fez
morada na gruta da lembrança.
Galopava
num cavalo de pau
Na
campina florida do meu sonho;
Um
campônio alegre bem risonho
Despertava
num instante matinal.
Na
floresta o cantar fenomenal
Do
concriz, seresteiro que não cansa;
Esse
mundo ecoa com pujança
Entre
os vales do sonho tão divino;
A
saudade do tempo de menino
Fez
morada na gruta da lembrança.
Lembro
bem das vazantes alagadas
Os
tetéus numa orquestra delirante,
As
marrecas voando bem rasante
Desenhando
no céu linhas curvadas.
Nas
campinas florinhas orvalhadas
Perfumava
com lírica aliança;
Era
um mundo de linda aventurança
Que
hoje guardo no sonho campesino;
A
saudade do tempo de menino
Fez
morada na gruta da lembrança.
Eu
pulava no poço mais profundo
Sobre
as águas marrons do Pajeú
Com
meu corpo esguio, quase nu,
Deslizava
num rápido segundo.
Para
mim não havia outro mundo
Diferente
do mundo da criança;
Era
um tempo feliz de esperança
Que
hoje guardo na forma de um hino;
A saudade do tempo de menino
Fez
morada na gruta da lembrança.
Logo
cedo corria pro roçado
Pra
cuidar do meu bando de ovelhas,
E
ficava feliz vendo as abelhas
Preparando
o cortiço encapado.
Para
mim, era um mundo encantado,
Que
me dava no peito segurança;
Hoje
choro por causa da mudança
Que
chegou, transformando meu destino;
A
saudade do tempo de menino
Fez
morada na gruta da lembrança.
Sobre
a tela da mente ainda vejo
O
Sertão se mostrando na invernada,
A
cantiga sutil da passarada,
O
semblante feliz do sertanejo.
Na
memória, eu guardo o gracejo
Da
rolinha mostrando sua andança;
Esse
mundo que não tem semelhança,
Ele
vive no meu sonho mais grã-fino;
A
saudade do tempo de menino
Fez
morada na gruta da lembrança.
Inda
vejo mamãe na flor do riso
Preparando
o café toda manhã;
O
seu jeito suave feito lã
Revelava
do rosto um paraíso.
A
bondade foi seu mundo preciso
Que
procuro vivê-la como herança;
É
a luz que me dar perseverança
Pra
enfrentar esse mundo tão ferino;
A
saudade do tempo de menino
Fez
morada na gruta da lembrança.
Gilmar
Leite
Cantigas e Cantos
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