sábado, 4 de maio de 2013

MÚSICA: Secos & Molhados 40 anos de sucessos " Meteoro latino"

 Há 40 anos, os Secos & Molhados gravavam seu álbum de estreia, um marco da música e da cultura brasileira

A gravadora não levava muita fé. Tanto que deixou as coisas correrem soltas nas gravações do álbum de estreia da banda formada por Ney Matogrosso (vocal), João Ricardo (violões, harmônica de boca e vocal) e Gerson Conrad (violões e vocal). "Eles prensaram 1,5 mil cópias para serem vendidas ao longo do ano. Vendeu tudo em uma semana", relembra Ney, 71 anos, um dos artistas mais criativos da MPB há quatro décadas.
Sucesso comercial da banda foi bem além daquela tiragem inicial do LP batizado com o nome do grupo, Secos & Molhados. "Num intervalo de 11 meses, gravamos dois discos. O primeiro vendeu 1 milhão de cópias; o segundo, 750 mil. Isso numa época em que o Roberto Carlos - o artista mais bem sucedido do País - ganhava disco de ouro vendendo 50 mil", compara Gerson Conrad. O músico dá outra ideia do estrondoso sucesso daquele primeiro álbum - e de seu sucessor. Até hoje ele vive de direitos autorais, graças à invejável marca de 50 mil a 60 mil cópias (entre LPs, CDs e álbuns digitais) vendidas anualmente, contendo as canções daqueles dois primeiros trabalhos.
O Secos & Molhados converteu-se num fenômeno sem precedentes na história cultural brasileira. A fórmula do sucesso não tinha nada de óbvio. Não tinha traços da bossa nova, nem de romantismo açucarado. Era rock, mas não tinha nada da Jovem Guarda; era um som brasileiro, canibalizando estéticas estrangeiras, mas certamente não era de um neotropicalismo de que se tratava.
O visual também era pouco usual. O trio não composto de almofadinhas prontos a serem devorados pelas adolescentes, nem gente vestindo as últimas tendências da moda contracultural.

Ainda que ao vivo a trupe fosse muito maior, o grupo era oficialmente formado por três sujeitos franzinos. Dois hippies barbados, de cara pintada, adornados de cristais e purpurina, ladeavam uma figura andrógina, nua da cintura para cima, com plumas e maquiagem pesada.
A voz aguda, quase feminina, de Ney Matogrosso também não encontrava igual na programação radiofônica da época. Tudo exalava provocação em pleno governo Medici, num Brasil sob uma Ditadura Militar que já havia forçado o exílio de gente como Caetano Veloso e Gilberto Gil. "A transgressão era uma consequência da situação em que se vivia no Brasil. Não é que a música só pudesse ser mostrada assim. Mas a minha única maneira de dizer o que eu pensava a respeito de tudo aquilo era por meio da transgressão", conta Ney Matogrosso. Ele surgiu como uma estranha e incômoda figura que atraia homens e mulheres e fascinava as crianças.
O disco

"Secos & Molhados" foi gravado entre maio e junho de 1973. Chegou às lojas em agosto, numa embalagem difícil de resistir. A capa tinha sua força magnética: um banquete servia as cabeças de quatro figuras mascaradas (o trio principal e o baterista argentino Marcelo Frias, que deixou o line-up enquanto a arte era impressa). A bolacha reunia 13 canções autorais. "Sempre acreditamos no repertório autoral. Desde o início. O único cover com que 
brincávamos, e só para aquecer a voz, era ´Banho de Lua´, da Celly Campello. Brincávamos com ela, em três vozes. Acho que a banda tocou essa música no palco apenas ums vez, em Santo André. Mas jamais fizemos versões. O Secos sempre foi um grupo com trabalho próprio, de autor", define Gerson Conrad.

DELLANO RIOS
EDITOR 
Diário do Nordeste

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