Apesar de ter passeado principalmente pela música romântica, Odair não consegue estabelecer qual é o seu estilo. E acha curiosos os rótulos que colecionou. “Se você pegar os discos de heavy metal, de funk, de rock e pop, eles falam de amor. Só porque falo de amor significa que minha música é romântica? Escrevo sobre o amor, mas sobre o cotidiano, o social, as coisas do dia a dia. Meu estilo é esse. No caso das empregadas, foi até curioso, porque fiz uma única música sobre elas e fiquei marcado com isso. Acho que nem agrado tanto a elas como o Roberto Carlos ou o Amado Batista. Já com relação ao Hank Williams, inventaram isso. Nunca o ouvi na vida, nem sei como ele toca. É melhor me chamarem de Bob Dylan mesmo, porque pelo menos ele eu conheço”, diz.
Com 44 anos de carreira, Odair contabiliza 35 discos, sendo que os da década de 1970 venderam pelo menos 600 mil cópias cada. Só o de 1972, Assim sou eu, vendeu mais de 1 milhão. Por isso o cantor e compositor, nascido em Morrinhos, no interior de Goiás, faz questão de exaltar seu trabalho e defende que permanece há anos no meio artístico porque tem seus méritos. E ainda salienta que não lhe agrada ser tachado de brega, já que na sua concepção este termo é pejorativo e se refere às músicas sem qualificação. “Se tenho 40 anos de carreira e ainda faço shows focando nessas músicas compostas em 1970, é porque elas têm qualidade. Não é porque dei sorte e estava na hora certa, no lugar certo. Ralei muito e fiz sim um bom trabalho. Nada que não é benfeito não dura tanto tempo. Dentro daquilo que me propus fazer, acho que sempre teve qualidade, pelo menos, na maioria dos momentos. E também não gosto de me chamarem de brega, porque isso, para mim, é quando a música é ruim. Meu trabalho pode até não ser tão genial assim, mas também nem tão ruim para ficar nesse balaio”, pontua.
Responsável por clássicos como Eu vou tirar você deste lugar, A noite mais linda do mundo, Assim sou eu, Cadê você (que estourou com a dupla Leandro & Leonardo nos anos 1990) e Essa noite você vai ter que ser minha, Odair José chegou a ter problemas com a censura, inclusive com um do seus maiores sucessos: Uma vida só (Pare de tomar a pílula). A canção foi proibida pelos militares pelo suposto entendimento de que fazia propaganda contrária à distribuição de pílulas para o controle de natalidade. “A função dos censores não era só proibir o Chico Buarque de falar mal do governo. Eles também não gostavam que você falasse do amor explícito. Aquele amor de pegar na mão, de beijo no portão, já não era uma verdade. As pessoas estavam encostando no muro, fazendo sexo escondido dentro do carro, indo para motel. Comecei a falar disso e a censura não gostou. Se for comparar a minha música daquela época com estas de hoje, do arrocha, do sertanejo, a minha é muito inocente. A censura chegou a atrapalhar muito o meu processo de criação”, lamenta o cantor, que é casado há 28 anos com Jane, uma mineira de Mato Verde, Norte do estado.
Beatles
Fã dos rapazes de Liverpool, especialmente Paul McCartney e John Lennon (Odair até compôs a canção Eu queria ser John Lennon), o artista revela que teve grande influência dos Beatles, apesar de muita gente nem imaginar. Na apresentação que fez em BH ao lado da banda Dead Lover’s no começo de abril, no Granfinos, a correia de sua guitarra tinha a imagem de Paul. “Passei a vida inteira ouvindo Cat Stevens (cantor e compositor britânico que passou a se chamar Yusuf Islam) e tentando parecer com ele ou com o próprio Paul McCartney. Mas preferem dizer que copiei o Roberto Carlos ou Hank Williams. Essas desinformações me incomodam. Desde o meu primeiro disco tento ser um pouco de Paul McCartney, o que é muito difícil. A minha referência é essa. Gostaria de fazer 5% do que o Paul faz”, declara.
De uns anos para cá, Odair José foi “redescoberto” pela juventude e virou até um cantor cult. Para ele, foram os músicos da nova geração, como Zeca Baleiro (responsável pela produção do seu último disco, Praça Tiradentes), Guto Borges, Carlinhos Brown e até os Titãs e o Pato Fu que proporcionaram esse ressurgimento. E, consequentemente, se o artista mais jovem o descobre, acaba trazendo com ele seu público. “Fico impressionado com a quantidade de jovens nos meus shows. E isso me dá uma energia enorme, me deixa renovado. E vou te confessar que eu mesmo passei a respeitar mais o meu trabalho, ao saber que muita gente via as minhas músicas com esse olhar de admiração. Passei a ter mais disciplina e gostar mesmo disso. Hoje, me divirto demais e me dá prazer, principalmente na hora de tocar, que não gostava muito”, revela o artista, que se prepara para lançar o primeiro DVD da carreira, gravado em um show em Curitiba.
Odair não costuma fazer planos, “ainda mais na minha idade, o futuro é agora”, porém pretende produzir um disco de músicas inéditas ainda este ano, ao lado de sua banda, que conta com o filho Júnior, de 19 anos, que toca baixo e guitarra. “Tenho umas 12 músicas novas pelo menos, que considero muito boas. Elas merecem ser gravadas e vão refletir a realidade do Odair José hoje. A única coisa que quero e importa é que as pessoas saibam quem sou de verdade”, conclui.
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