ficaram pra se curtir,
Os santos ensinamentos
são para o crente seguir,
religião e política
embora mereçam crítica
não são pra se discutir
não pensavam do mesmo jeito,
pois enquanto Evangelista
diz que foi por Cristo aceito
Pilintra bate no bumba
dizendo que é na macumba
que se faz tudo bem feito.
de maneira diferente,
nunca tinham discutido
porque até o presente
não tinham, por sorte rara,
oportunidade para
um encontro frente a frente.
voltava alegre do culto
quando avistou muito longe
de Pilintra o negro vulto
que já vinha da macumba
no morro da Catacumba
já foram trocando insulto.
era uma encruzilhada
onde havia uma bebida
à Pomba Gira deixada
e uma galinha preta
pertinho de uma valeta
para um Exu colocada
disse o crente, o dedo em riste
é triste um pecador crer
num troço que não existe
e fazer o mal com isto
agravando a Jesus Cristo
é vinte mil vezes triste
– Preste muita atenção, moço,
se macumba não existe
não carece de alvoroço
Deus também nunca lhe disse
pra querer ter a burrice
de ser santo em carne e osso.
umas dez horas, e tantos,
começou a chegar gente
vinda de todos os cantos,
outros vinham feito loucos,
os que há pouco eram poucos
já não se sabia quantos.
de toda espécie de gente,
muitos pelo macumbeiro,
outros a favor do crente;
os aplausos ao combate
serviam para o debate
ficar cada vez mais quente
os crentes só fazem o bem
mas falam de todo mundo,
razão só vocês que têm
e eu na minha macumba
vivo bem com minha dumba
sem falar mal de ninguém.
dos dedos na negra capa
da Bíblia e ameaçou
dar no macumbeiro um tapa
e disse: – Na minha crença
eu não admito ofensa
mesmo que seja do Papa.
seu caboclo furacão
Pena Branca de Aruanda,
São Cosme e São Damião
Zé Pilintra e Preto Velho
que a luz do meu Evangelho
deixa todos sem ação.
não são para ser chamados
para assistir bate-boca
nem para fazer mandados.
São emissários benditos
que quando estamos aflitos
vêm nos fazer consolados.
disse: – Cara, muito bem
qual é a luz que um espírito
que vive nas trevas tem?
E como é que tu levas
fé num espírito das trevas
que nunca ajudou ninguém?
que mais combato e censuro
e que o reino de Deus
é pra vocês no futuro,
estão errados, declaro
para vocês tudo é claro
para os demais é escuro.
Iansã, Nanã, Ogum,
Omulu, Xangô, Oxóssi,
Iemanjá e Oxum,
Mariazinha da Praia
que quero dar uma vaia
pois não respeito nem um.
disse Pilintra arrogante,
respeite a religião
que segue o seu semelhante
senão eu lhe meto o murro
porque o destino do burro
é morrer ignorante.
quis o Pilintra agredir,
a turma do “deixa disso”
fez intruso sair
com a recomendação
de não entrar na questão
deixando os dois discutir.
já parecia uma briga,
vai ofensa, vem ofensa
e no meio da intriga
que parecia arruaça
a plateia achava graça
de dar cãibra na barriga.
na garganta como poucos,
dando socos no espaço,
já completamente roucos
uns riam pelo que viam,
outros riam dos que riam,
era um festival de loucos.
no meio da discussão.
Evangelista deixou
a Bíblia cair no chão,
e Pilintra não sabia
porque razão discutia
com tão voraz decisão.
perder aquela disputa,
Pilintra não ia dar mole
nem que fosse a força bruta,
até o quinto mandamento
não cumpriria no momento
para não perder a luta.
duraria a noite inteira,
mas antes da hora grande
Pilintra com voz maneira
disse: – Acabo a raça sua,
vou chamar seu Tranca-Rua,
Encruzilhada e Caveira.
perdeu logo a esportiva
e disse: – Convide alma
de preta velha cativa,
de velho catimbozeiro
que quero ver mandingueiro
comigo ter voz ativa.
a disputa atentamente
fez um boneco de pano
muito negro e reluzente,
jogou para o alto o treco
e a droga do boneco
caiu bem nos pés do crente.
e quis sair na carreira,
mas ao escutar as vaias
daquela cambada inteira
ouviu do canto da praça
um sujeito achando graça
igualmente uma caveira.
quis esboçar reação,
buscando apoio do povo
disse acenando com a mão:
– Todo infeliz macumbeiro
é bandido e maconheiro,
é assassino e ladrão.
ficou muito indignado
e disse: – Cara não faça
juízo precipitado,
até o momento presente
não sei porque todo crente
tem a fala de viado.
ninguém entendeu ninguém,
foi muito grande o tumulto
guias chegaram do além,
para esquentar o ambiente
no final até o crente
recebeu santo também.
no crente foi novamente
para região celeste
todo o pessoal presente
entre risos e charadas,
num festival de risadas
todos mangavam do crente.
Pilintra lia convencido
da discussão o poema
achando não ter perdido,
o crente em sua Assembleia
também lia a epopeia
certo que tinha vencido.
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