Sexta-feira de muita chuva no Recife. À noite, os relâmpagos clareavam o céu e as águas lenteavam o trânsito da cidade. “Eparrêi, Oiá!”, gritou Maria Bethânia no final da quarta música (Dona dos raios e dos ventos) do seu show, cruzando os braços no ar, numa expressão guerreira, para saudar o orixá dos ventos e das tempestades. A cantora baiana subiu ao palco do Teatro Guararapes com a força e o brilho de Iansã.
Em Carta de amor, Maricotinha mais uma vez arrebatou sua plateia com simplicidade de gestos e, ao mesmo tempo, grandiosidade de interpretação num enredo que remonta os sentimentos, crenças e lembranças que ergueram os seus mais de 40 anos de carreira. E os pernambucanos, claro, agradeceram-na com eufóricos aplausos e uma bilheteria esgotada.
No início do primeiro ato do
show, a orquestra deu os primeiros acordes ao se abrirem as cortinas. Do fundo
escuro do palco, sobre um belíssimo tapete de retalhos brancos, Bethânia surgiu
falando da doçura e da libertação que a palavra e a música lhe trazem. Traduziu
isso com Canções e momentos, de
Milton Nascimento e Fernando Brant, e Sangrando, de Gonzaquinha,
como quem pedia licença para começar sua grande oração – por que, afinal, ao
mesmo tempo em que canta, ela reza.
Nesse primeiro bloco do show, a baiana falou dos venenos, dos
desencontros, das desilusões, das nostalgias e das dores. Na sua carta, era
como ela confessasse o amor incontrolável ao seu remetente, mas também, dona de
si, alertava das feridas do coração (Fera
ferida) e gritava por liberdade: “Não enche”. E o público sentia tudo isso junto
com Bethânia, seguindo com os olhos os passos e gestos da intérprete em cada
frase das canções, como nas extasiantes Calúnia e Negue.
No entanto, ficou faltando Vive, música de Djavan,
gravada em Oásis de Bethânia e não acrescentada ao repertório da
turnê.
O caminho que Maria Bethânia segue durante todo o seu show é muito bem desenhado por ela e pela diretora Bia Lessa. A verdade e firmeza que a cantora busca dar a cada coisa dita ou até não-dita em cena é conduzida magistralmente pelo não-verbal criado por Bia. O simples e lindo cenário erguido com luzes que sobem e descem ao longo de toda a apresentação, junto com o tapete que forra o chão firme de Bethânia, transformam o palco em um oásis.
Depois de cantar Quem me leva meus fantasmas, Bethânia colocou as mãos nos cabelos, jogou-os para trás e seguiu um traçado de luzes para as coxias, deixando o maestro Wagner Tiso e sua banda tocarem uma versão instrumental de Maria, Maria. E é de Wagner, inclusive, grande parcela da responsabilidade da leveza de Carta de amor. Os arranjos modernos e ao mesmo tempo densos dão os tons certos para cada interpretação.
O caminho que Maria Bethânia segue durante todo o seu show é muito bem desenhado por ela e pela diretora Bia Lessa. A verdade e firmeza que a cantora busca dar a cada coisa dita ou até não-dita em cena é conduzida magistralmente pelo não-verbal criado por Bia. O simples e lindo cenário erguido com luzes que sobem e descem ao longo de toda a apresentação, junto com o tapete que forra o chão firme de Bethânia, transformam o palco em um oásis.
Depois de cantar Quem me leva meus fantasmas, Bethânia colocou as mãos nos cabelos, jogou-os para trás e seguiu um traçado de luzes para as coxias, deixando o maestro Wagner Tiso e sua banda tocarem uma versão instrumental de Maria, Maria. E é de Wagner, inclusive, grande parcela da responsabilidade da leveza de Carta de amor. Os arranjos modernos e ao mesmo tempo densos dão os tons certos para cada interpretação.
Na volta para o
segundo ato, Maria Bethânia volta com seu tom mais popular, resgatando os
sertões e as meninices. Ela abre o novo módulo com uma homenagem indireta ao
Recife, louvando os maracatus em Festa, de Gonzaguinha, e Dora, de Dorival
Caimmy. Daí, a baiana vai seguindo seu caminho cíclico com A casa é sua, Adeus
Guacira e um pot-pourri de sambas de roda, encanto de seu público com Reconvexo – e emocionando com a mão levada ao peito ao falar
da “novena de Dona Canô”.
Mateus Araújo
JC
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