Poeta repentista cearense Geraldo Amâncio, um dos maiores cantadores da Nação Nordestina na atualidade |
Geraldo Amâncio
Respeitar pai e mãe é o primeiro,
O defeito de um filho é ser grosseiro;
A virtude dos pais é serem bons.
Todo filho tem três obrigações:
Escutar, respeitar e obedecer;
Respeitar pai e mãe é um dever;
Esquecer mãe e pai é grosseria,
Se não fossem meus pais, eu não teria
O direito sagrado de viver.
Como um ente que vive em abandono,
Passo horas inteiras sem ter sono
E só durmo depois de um comprimido.
Quando acordo é nervoso e abatido,
Os meus sonhos são cheios de aflição,
Aí rezo com fé uma oração
Chegam mil esperanças novamente.
Acredito que Deus está presente
No silêncio da minha solidão.
Muito velho já estou
Completei sessenta anos
Já fui pai, já sou avô
Pra mulher, não sou mais nada
Mas pra quem canta, inda sou.
Eu já tomei mais d’um tubo
Estou feito terra fraca
Precisando de adubo
Em mulher num subo mais
Mas em cantador eu subo.
O meu torrão querido,
Ouvi meu próprio gemido
A me pedir pra ficar…
Mas, vendo que de voltar
Havia pouca esperança,
Triste como uma criança
Que está com fome ou com sede
No punho da minha rede
Deixei um nó por lembrança.
Foi coisa desconhecida
Eu vi dois vultos passando
Em carreira desmedida
Era o cavalo do tempo
Atrás da besta da vida.
É uma amiga sincera
Que assume meus queixumes
Faz de inverno, primavera
Compreende os meus medos
Guarda fiel meus segredos
Meu sonho, minha quimera.
E tão pura, tão branca igual a um véu…
Está na terra, no mar, está no céu
E no pelo que tem a jitirana.
Ela está em quem vive a cortar cana
Quando volta pra casa ao meio dia…
Está num bolo de fava insossa e fria
Que um pobre mastiga com linguiça.
Está na paz, no amor e na justiça
O mistério da doce poesia.
Nada ganhei nem perdi
Nada ignoro do nada
Porque do nada nasci.
Se o nada foi um abrigo
Seja o nada meu jazigo
Pois nada disso me enfada.
Eu de nada fiz estudo ,
Mas sei que o nada faz tudo
E tudo se torna em nada.
Das brancas raízes expostas à lua,
Da pedra alvejada, da laje tão nua
Guardando o silêncio da noite no monte.
Cantor do lamento da água da fonte
Que desce ao açude e lá fica a teimar
Com o sol e com o vento, até se finar
No último adejo da asa sedenta,
Que busca salvar-se da morte e inventa
Cantigas de adeuses na beira do mar.
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