O projeto Nívea Tom Jobim será visto em apenas seis
capitais
"A gente não tem ideia do que é Tom Jobim. Foram cem mil pessoas no
show no Farol da Barra, em Salvador, quando começa a cantar todo mundo canta
junto. Ele é muito mais popular do que qualquer coisa que se imagine”, o
arroubo é da cantora Vanessa da Mata, sobre a turnê Nívea Viva Tom Jobim, que
ela apresenta domingo, às 17h30, no Parque Dona Lindu, com entrada franca. Como
o nome indica, ela está cantando um repertório dedicado a Tom Jobim, um projeto
patrocinado pela Nívea que, no ano passado, realizou o projeto Nívea Elis, com
a cantora Maria Rita (que também se apresentou no Parque Dona Lindu). Apenas
seis cidades receberam o privilégio de assistir a Vanessa da Mata cantando Tom
Jobim: Rio (onde aconteceu a estreia para convidados), Salvador, Recife, Brasília,
Porto Alegre e São Paulo.
Vanessa da
Mata, por coincidência vinha de um projeto pessoal e assemelhado, Lua cheia de
baião, de 2012, com que celebrou o centenário de Luiz Gonzaga: “Com aquele show
entrei em outro caminho na minha carreira. Até então nunca tinha feito um show
cantando um único autor, até incluía uma música ou outras. Pensei em gravar o
repertório, em ir pra rua com o show, mas estava com um disco autoral pronto,
quando veio o convite da Nívea para cantar Jobim, arquivei o o disco. Não sei
quanto retorno a ele”, comenta a cantora, em entrevista por telefone.
O trabalho
como desafio, começando pela seleção do repertório, o que pinçar no meio da
caudalosa e preciosa obra do maestro? “A sensação que meio veio era a de que
tudo que ele fez é indispensável. Escolhi 150 músicas. Kassin chegou com outras
tantas. Acabamos ficando com a seleção de Monique Gardenberg (diretora do
espetáculo), bem parecida com a minha lista”, diz Vanessa.
Ela
garante que não se preocupou muito com um outro desafio em cantar Tom Jobim.
Muitas das canções tinham recebido interpretações senão definitivas, mas
antológicas. Elis Regina, por exemplo, tem entre os clássicos de sua
discografia o álbum Elis & Tom, em que imprimiu seu talento a canções como
Águas de março ou Chovendo na roseira: “O desafio era bom por isso. Tom é um
dos compositores mais gravados do mundo, depois dos Beatles. Até alguns anos,
Garota de Ipanema era a música mais executada do mundo, só perdia para os
Beatles. Mas Tom era apenas um, e os Beatles quatro”, brinca a cantora.
Ela
comenta que nem pensou nas grandes gravações que a música de Tom Jobim recebeu:
“Não ia ter medo desta situação, senão nem entraria. Ou se sentisse que não
estava acrescentando nada com a minha interpretação. É difícil escolher uma
preferida de Tom, mas acho que no repertório uma das que mais me tocou foi
Sabiá, acho que nossa versão ficou muito boa”.
Antes da Vanessa da Mata cantora de sucesso, veio a compositora, que começou
emplacando música em disco de Maria Bethânia, A força que nunca seca (parceria
com Chico César), que deu título ao álbum da baiana..
Vanessa
afirma que entre suas maiores influências como autora está Tom Jobim: “A forma
como ele descrevia a mulher, com muita poesia, melodias aparentemente simples.
Muitas canções são tristes, mas no final ela se superam. É a poesia servindo a
música, sem egocentrismo, e arranjos lindos”. Muitos dos arranjos de Tom Jobim
foram assinados pelo pianista carioca Eumir Deodato, há anos morando na
Califórnia.
Deodato
veio dos Estados Unidos para arranjar novamente canções do maestro, desta vez
para Vanessa da Mata: “Ele um maravilhoso arranjador de cordas. Ele até tocou
com a banda na première do show, no Rio. Foi uma convivência muito boa, porque
ele sabia muitas histórias de Tom, os dois foram para os Estados Unidos na
mesma época. Foram feitas umas mudanças nos arranjos, no começo ou no final. A
minha geração acrescentou timbres, coisas que Eumir não ouvia muito. As vezes
ele não queria, mas acabava sendo convencido, e adorando”.
Nada de
mexida radical, claro. Um toque de bolero em Eu sei que vou te amar, ou uma
gonzaguiada em Samba de uma nota só, em que um baião se insinua no comecinho da
música. As canções de Tom Jobim são emolduradas por pequeno filmes,
projetos em telão, criados por Monique Gardenberg. Para Wave, cenas Sophie
Charlotte no calçadão de Copacabana, num clima anos 1960. Sabiá, canção do
exílio, feita durante a ditadura militar, é cantada, tendo ao fundo cenas dos
conflitos de rua em 1968.
José Teles
JC
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