· Depois de reunir 3 mil jovens em show numa
fazenda em Santa Catarina, guitarrista sonha fazer turnê do disco 'Tudo foi
feito pelo Sol', de 1974
· O álbum
‘Fool metal Jack’ chegará ao Brasil via iTunes
· ‘A relação humana é muito difícil, mas meu
amor por eles é muito maior’, diz ele
sobre Arnaldo e Rita LeeSérgio Dias lança disco novo dos Mutantes e diz que gostaria de tocar mais no Brasil Divulgação |
RIO - Os Mutantes atacam novamente.
Desta vez, personificados em um só integrante dos tempos idos: o guitarrista
Sérgio Dias. A banda, que fez história nos anos 1960 e 1970 — com Sérgio, seu
irmão Arnaldo Baptista e Rita Lee — e voltou a tocar em 2006, lançará um novo
disco no dia 30 de abril, com 12 faixas, as quais abordam a crise que os
cidadãos enfrentam na América atualmente. O álbum “Fool metal Jack” — cujo nome
faz alusão ao filme “Full metal jacket” (“Nascido para matar”), dirigido por
Stanley Kubrick em 1987 — chegará ao Brasil apenas digitalmente, pelo iTunes,
pois as principais gravadoras no país não têm procurado o conjunto, segundo
Sérgio Dias. Ele também se queixa dos grandes produtores nacionais que
restringem a liberdade de criação do artista.
— Se ouvíssemos as opiniões do
mercado, não teríamos lançado nem o primeiro disco — lembrou Sérgio, que está
morando em Las Vegas. — O público está do nosso lado, mas as gravadoras não se
interessam por nós. Tudo é tão ao deus-dará. O que aconteceu conosco, ninguém
fez por nós. Se me perguntassem em 2005 se eu estaria tocando com Os Mutantes,
daria risada. Quando voltamos, não tínhamos empresário, nada. De repente,
estávamos tocando nos Estados Unidos, Canadá, França e Cingapura.
O grupo, que já passou por várias
formações, fazendo jus ao nome, desta vez tem, além de Sérgio, Esmeria Bulgari
(voz e percussão), Vinicius Junqueira (baixo), Vítor Trida (guitarra e voz),
Amy Crawford (teclado e voz) e Ani Cordero (bateria, percussão e voz). Para o
guitarrista, o trabalho da banda “atravessa o tempo”.
— Não há gratidão maior para um
artista do que ter gerações seguintes o admirando, a sua música sobreviver a
você. Ninguém tira de qualquer geração que exista o sentimento de ser
indestrutível aos 13 anos. Então, não importa se uma música idiota aparece,
pois outras 30 boas aparecerão — diz ele, que acha fenômenos virais como
“Gagnam style”, do sul-coreano Psy, “loucuras” divertidas.
'Tudo foi feito pelo Sol'
Sérgio fala do amor das novas
gerações com conhecimento de causa. No dia 30 de dezembro de 2012, ele, Túlio
Mourão (teclado), Antônio Pedro de Medeiros (baixo) e Rui Motta (bateria) –
todos membros da formação da banda em 1974 — fizeram uma apresentação histórica
no Festival Psicodália, realizado na pequena cidade de Rio Negrinho, em Santa
Catarina. Tocaram, na íntegra, o disco “Tudo foi feito pelo Sol”, lançado
naquele mesmo ano. O grupo conseguiu reunir mais de 3 mil pessoas,
predominantemente jovens, de diversos cantos do país, em uma fazenda de difícil
acesso. O guitarrista conta que ele e seus parceiros estão dispostos a levar o
show do álbum para outras cidades brasileiras, mas faltam propostas.
— Nunca tivemos problema algum em
relação ao público. Ele é tão grande, tão maravilhoso. Uma coisa que nunca
consigo entender é como é que não estamos tocando por aí. Em todo lugar onde
nos apresentamos há 80 mil, 60 mil pessoas. O show de “Tudo foi feito pelo Sol”
foi absurdo. Como é que não temos possibilidade de fazer em outros lugares do
Brasil? — pergunta Sérgio.
Arnaldo sobre Sérgio: afastamento
musical
O guitarrista está sem conversar
com o irmão, Arnaldo Baptista, desde 2007, época em que este ainda integrava Os
Mutantes. Sérgio também perdeu contato com Rita Lee desde o último Rock in Rio,
em 2011, quando se falaram pelo telefone. Ele diz que seu amor por Arnaldo e
Rita é eterno e que adoraria voltar a tocar com os dois.
— Eu respeito as pessoas. Não vou
me impor a elas. Quem quiser me encontrar, estarei de braços abertos. Não tenho
ressentimento algum. A relação humana é muito difícil, mas meu amor por eles é
muito maior. Tenho um imenso respeito pelo que a vida fez, de ter nos colocado
juntos. Só posso abaixar a cabeça e dizer muito obrigado — afirmou Sérgio.
As versões dos irmãos para o
afastamento são desencontradas. Sérgio Dias diz que a esposa de Arnaldo
Baptista, Lucinha Barbosa, o impediu de se aproximar do irmão. Arnaldo, por sua
vez, afirma que o motivo foi essencialmente musical.
— O Sérgio escolhia as guitarras
que eu mais odiava. Ele considera amplificadores valvulados frágeis e
dificílimos de ligar, mas são melhores porque valorizam mais os sons graves. Na
minha última turnê com o grupo, fiquei decepcionado por não termos usado nenhum
valvulado. Sérgio nunca podia me visitar em Belo Horizonte, mas tive de ir à
São Paulo ensaiar várias vezes. Sinto saudade dele, mas não totalmente por
causa dessas questões — esclareceu Arnaldo, que também pretende lançar um novo
álbum em breve, chamado “Esphera” — Nesse disco, defendo o investimento em
eletricidade solar e eólica por um mundo que cause menos poluição.
LARISSA FERRARI
o globo
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