Hoje,
quem vê o Conservatório Pernambucano de Música com oficinas e reuniões em
celebração ao chorinho, não imagina que há mais de 30 anos o gênero não tinha
espaço no local. Com aulas que se restringiam apenas ao estudo da música
erudita, a introdução da música popular no contexto didático foi feito com
árdua luta.
Quando perguntado sobre a nova geração de chorões
recifenses, o professor Marco Cesar logo desatou a explicar. "Outro dia
fizeram uma reportagem sobre os adolescentes que tocam choro, de onde eles vêm
e de onde surgiram, mas não ficou muito claro. Parecia que havia caído uma
chuva de choro na cabeça dos meninos e ele saíram ‘tudo’ tocando", brinca.
A relação que Marco Cesar tem com o
Conservatório e a música popular já chega aos 30 anos. Foi no final da década
de 70 que o próprio insistiu para que fosse instaurado na escola um curso de
Música Popular Brasileira. "Quando eu era estudante do Conservatório ouvia
umas fitas Philips de rolo com mensagens gravadas por Jacob do Bandolim, que
meu pai trazia. Nas mensagens fonadas, Jacob incentivava o estudo. Ele tocava
algum choro novo dele e depois dizia: o choro é muito bonito, estudem a música
popular", conta.
Apesar de não acreditar na
resistência do choro através das décadas (Jacob havia dito em certa entrevista
ao Museu da Imagem e do Som em São Paulo que o gênero não duraria dez anos), o
músico fazia questão de gravar suas canções, seguidas de um apelo que instigava
aquela geração a conhecer o choro.
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O cavaquinista João Paulo Albertim encara as rodas de choro como uma escola |
E assim foi feito. Ainda estudante do
CPM, Marco César tocou em orquestra para provar que era um músico completo e
que, sim, valia a pena ensinar a música popular no Conservatório. Então, ainda
estudante se tornou professor e hoje é referência para os alunos que aprenderam
com ele.
O cavaquinista João Paulo Abertim é um deles. Um dos nomes da nova safra
de chorões recifenses, ele personifica a resistência e valor do gênero no
cenário musical pernambucano atual. Em 2011, o músico lançou seu primeiro CD,
intitulado Toca Pernambuco. O disco, que conta com a direção musical de Marco
Cesar, foi classificado como um dos pré-selecionados para o Prêmio da Música
Brasileira 2013.
"Desde
garoto, ao ouvir as gravações dos meus ídolos no cavaquinho - Waldir Azevedo,
Henrique Cazes, Jacaré do Cavaquinho - tinha o sonho de conseguir gravar meu CD
solo desse instrumento. É um grande trabalho de pesquisa. Para conceber o disco
foram necessários mais de dois anos", conta. João paulo explica ainda que
o intuito era criar um trabalho que fizesse uma contribuição ao cavaquinho,
indo além do comercial.
Vinícius Sarmento também optou pela música popular
quando começou a estudar no CPM. O violonista já era cercado pelo ambiente de
choro antes mesmo de nascer, já que sua família mantém a tradição nos encontros
e reuniões familiares. "Quando comecei a tocar, meu pai me falou da
importância que tinha o choro na formação de um instrumentista", explica.
Vinícius optou pelo violão de 7 cordas, e a partir do conselho de seu pai
cultivou a intimidade com a linguagem antes mesmo de adentrar na didática do
instrumento.
"Na minha escolha pelo violão de 7 cordas, meu
tio Bozó e Raphael Rabello tem igual importância", pontua Sarmento.
Segundo ele, a influência de Bozó 7 cordas em sua carreira se deu não só pela
proximidade, mas também por estar diante de um grande instrumentista. Já
Raphael o arrebatou com seus discos: "me deu uma vontade imensa de um dia
tocar daquela forma", contou.
Embora a
tradição do choro se firme a cada dia no cenário musical pernambucano, ainda se
faz necessário que o gênero seja apresentado aos instrumentistas da nova
geração, para que a safra de chorões se multiplique a cada dia, perpetuando a
transmissão dos valores da música instrumental. Para isso, o incentivo de
entidades como o Conservatório Pernambucano de Música é fundamental.
Atividades
- Em comemoração ao Dia do Choro, festejado na última
terça-feira (23), o Conservatório Pernambucano de Música (CPM) promove deste
sábado (27) até a segunda-feira (29) oficinas para instrumentistas
profissionais e amadores. No último dia do evento, participantes e professores
apresentarão o resultado dos estudos realizados.
Oficinas
de bandolim, cavaquinho, instrumentos de sopro e percussão, canto e prática de
conjunto serão lecionadas pelos professores da instituição, grandes chorões
pernambucanos. Confira a programação:
Dia 27 e 28
Oficinas
Horário: 09h às 12h e 13h às 16h
Violão 6/7 cordas: Alex Sobreira
Bandolim e Cavaquinho: Moema Macedo
Instrumentos de sopro: Adilson Bandeira
Instrumentos de Percussão: Tadeu Júnior
Canto: Dalva Torres
Prática de conjunto (tarde): Mauricio Cezar
Dia 29
Roda de choro participantes das oficinas
Horário: 16h
Local: Palco Para Todos
Encerramento - Apresentação dos Professores e Convidados
Convidados: Arthur Philipe – cantor
Mozart Ramos – Flautista
Roque Neto – trompetista
Rogério - baterista
Marquinhos FM - baixista
SERVIÇO
Dia Nacional do Choro CPM - 2013
Local: Conservatório
Pernambucano de Música (Av. João de Barros, 594. Boa Vista – Recife)
Entrada
Gratuita
Inscrições: Secretaria do Conservatório até esta
sexta-feira (26).
Informações: 3183-3400 ou
www.conservatorio.pe.gov.br
Karol Pacheco, do FolhaPE
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