RIO - Embora veja o mar de sua janela, André Rieu
parece chateado. No Rio para se apresentar com a sua Johann Strauss Orchestra,
hoje, na HSBC Arena, às 21h30m — a temporada de concertos vai até domingo —, o
maestro e showman holandês esboça um sorriso econômico ao receber a
reportagem em um quarto de hotel. Talvez seja a saudade de seu precisoso
Stradivarius de 1732, que ficou na Europa para manutenção. É verdade que ele
dorme todas as noites abraçado aos seus violinos?
— Sim — responde laconicamente. Logo em seguida,
contudo, muda de ideia e resolve acabar com o folclore: — Na verdade, não é bem
assim... Eles ficam no quarto comigo. Na cama, só aceito mulheres.
Para entender o fenômeno André Rieu, que já vendeu
35 milhões de discos mundo afora graças a versões popularescas de valsas e
grandes clássicos, é preciso primeiro entender sua relação com a alma feminina.
— Cada violino é único — filosofa. — Como as
mulheres, precisam de atenção todos os dias. Senão, vão embora.
Mesmo tentando ser espirituoso, Rieu mantém um ar
reservado. Não é nem sombra da figura espalhafatosa que dá pulinhos nos palcos
enquanto toca seu Stradivarius e rege sua orquestra. Mas são justamente a
atitude de popstar e o uso massivo de recursos extramusicais que acabaram
conquistando um público pouco familiarizado com a cena erudita. Em meio a
telões gigantes, balões, esquiadores no gelo e outros artifícios dignos de um
Cirque du Soleil, há quem chore ouvindo Strauss pela primeira vez.
— Toco as pessoas no fundo do coração — explica. —
Uma professora da Universidade de Maastricht (Holanda) está me
estudando. Quer saber qual o segredo para me conectar com o público. Ela
garantiu que, em dois anos, terá a resposta.
Mais do que um gênero musical, a valsa é um estilo
de vida para Rieu. Seu sucesso é tornar o mundo “valsável”, ou melhor: leve e
inebriante como uma taça de champanhe. A disposição vai tão longe que ele
imagina sua orquestra como uma espécie de “exército da valsa”, capaz de
resolver os grandes conflitos do mundo. Ele planeja um concerto no polo norte
para combater o aquecimento global (“ursos polares dançam”, justifica), e sonha
evitar uma guerra nuclear entre as duas Coreias.
— A valsa tem momentos melancólicos e alegres, é um
espelho da vida — diz o maestro. — Quando toca, é impossível não trazer paz.
Bolívar Torres
O Globo
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