Não me assusta o cantar de violeiro,
Nem que venha da China Comunista,
Tenha mais de um olho em sua vista,
E viagem a cavalo em nevoeiro,
Pois meu verso possui tiro certeiro
Nenhum vate se cresce em minha frente,
Se tentar me morder fica sem dente,
Na arte de versar sou escoteiro,
"Essa noite eu retalho o mundo inteiro,
Com a peixeira amolada do repente"!
Afiando essa faca cortadeira,
Risco o céu na fração de um segundo
E não acho poeta nesse mundo
Que eu não faça cantar "Mulher Rendeira",
A canção que Virgulino Ferreira,
Cangaceiro nativo do sol quente,
Ensinou no sertão pra muita gente,
E agora eu ensino a violeiro,
"Essa noite eu retalho o mundo inteiro,
Com a peixeira amolada do repente"!
O meu verso qual aço é temperado,
Não derrete, entorta ou se arrebenta
Com qualquer quenturinha ele se esquenta,
E adquire seu tom avermelhado,
Cabra fraco comigo sai ferrado,
Deixo nele um sinal bem diferente,
Uma marca de brasa em ferro quente,
Igual bode que ferro em meu chiqueiro,
"Essa noite eu retalho o mundo inteiro,
Com a peixeira amolada do repente"!
Procurei nas veredas do sertão
Enfrentando os riscos do perigo,
Cantador pra poder cantar comigo
Desafio um martelo ou um mourão,
Parti do Rio Grande ao Maranhão,
Quase que varo fora o continente,
Mas confesso a vocês, sinceramente,
Não achei quem ciscasse em meu terreiro,
"Essa noite eu retalho o mundo inteiro,
Com a peixeira amolada do repente"!
Nos baixios do mundo da poesia,
Cultivei procurando inspiração,
Trazendo um coco d’água e um matulão,
Onde encontrava abrigo, eu comia,
Fui plateia de toda cantoria,
Seguidor da toada e do repente,
Desbravei meu sertão, conheci gente
Das estradas, virei quase um romeiro,
"Essa noite eu retalho o mundo inteiro,
Com a peixeira amolada do repente"!
Saulo Lacerda
Fonte: Facebook
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