Zé Limeira (Teixeira, 1886 — 1954) foi o
cordelista/repentista mais mitológico do Brasil. Era conhecido como Poeta do
Absurdo. Nasceu no sitio Tauá, em Teixeira, cidade da Paraíba que foi o
principal reduto de repentistas no século XIX.
Os temas que abordava em suas poesias e repentes
eram variados e chegavam, muitas vezes, ao delírio. Pornografia era um tema
recorrente, mas Zé Limeira ficou conhecido como “Poeta do Absurdo” por suas
distorções históricas, poesias recheadas de surrealismo e nonsense, e pelos
neologismos esdrúxulos que criava.
Vestia-se de forma berrante, com enormes óculos
escuros e anéis em todos os dedos, e saía pelos caminhos de sua vida, cantando
e versando.
O meu nome é Zé Limeira
De Lima, Limão , Limansa
As estradas de São Bento
Bezerro de Vaca Mansa
Valha-me, Nossa Senhora
Ai que eu me lembrei agora:
Tão bombardeando a França
Ninguém faça pontaria
Onde o chumbo não alcança
E vou comprá quatro livro
Prá estudá leiturança
Bem que meu pai me dizia:
Jesus , José e Maria,
São João das Orelha mansa
Ainda não tinha visto
Beleza que nem a sua,
De cipó se faz balaio
A beleza continua
Sete-Estrelo, três Maria
Mãe do mato pai da lua
A beleza continua
De cipó se faz balaio
Padre-Nosso, Ave-Maria,
Me pegue senão eu caio
Tá desgraçado o vivente
Que não reza o mês de maio
Sei quando Jesus nasceu,
Num dia de quinta-feira,
Eu fui uma testemunha
Sentado na cabeceira
São José chegou com um facho
De miolo de aroeira
Um dia o Rei Salamão
Dormiu de noite e de dia,
Convidou Napoleão
Pra cantá pilogamia
Viva a Princesa Isabé
Que já morô em Sumé
No tempo da monarquia
Zé Limeira quando canta
Estremece o Cariri
As estrêla trinca os dente
Leão chupa abacaxi
Com trinta dias depois
Estoura a guerra civí
A seguir o mais
famos dos textos do cordelista do absurdo:
O Marechal
Floriano
Antes de entrar
pra Marinha
Perdeu tudo
quanto tinha
Numa aposta com
um cigano
Foi vaqueiro
vinte ano
Fora os dez que
foi sargento
Nunca saiu do
convento
Nem pra lavar a
corveta
Pimenta só
malagueta
Diz o Novo
Testamento!
Pedro Álvares
Cabral
Inventor do
telefone
Começou tocar
trombone
Na volta de Zé
Leal
Mas como tocava
mal
Arranjou dois
instrumento
Daí chegou um
sargento
Querendo
enrabar os três
Quem tem razão
é o freguês
Diz o Novo
Testamento!
(...)
Quando Dom
Pedro Segundo
Governava a
Palestina
E Dona
Leopoldina
Devia a Deus e
o mundo
O poeta Zé
Raimundo
Começou castrar
jumento
Teve um dia um
pensamento:
“Tudo aquilo
era boato”
Oito noves fora
quatro
Diz o Novo
Testamento!
Quando Tomé de Souza Era governador da Bahia,
Casou-se e no mesmo dia
Passou a pica na esposa.
Ele fez que nem raposa,
Comeu a frente e atrás,
Chegou na beira do cais
Aonde o navio trafega,
Comeu o Padre Nóbrega,
Os tempos não voltam mais!
Quando Tomé de Souza Era governador da Bahia,
Fonte:
Antônio Miranda
Wikipédia / PatosTv
Artista plástica: Fran Lima
Minha homenagem ao rande Zé Limira:
ResponderExcluirFoi num porto da Bahia
Que Dom João chegou bem cedo
Dava pra contar no dedo
A bagagem que trazia
Uma dúzia de bacia
Dois fardos de algodão
Gasolina de avião
Do café trouxe a semente
Duas bíblias uma de crente
Outra do rei Salomão
Cristo enforcou Jesus
Na beira do rio Jordão
Na noite de São João
Num galho de cipó-cruz
Comeu pirão com cuzcuz
No meio da cabroeira
Na noite de sexta-feira
Cantou prosa e rezou missa
José e Maria castiça
Diria assim Zé Limeira
No tempo da ditadura
Eu rezei pro pai eterno
Fez sol mas deu bom inverno
Plantei fava e rapadura
Veja só que formosura
A “muié” de Barbosinha
Se ela tivesse sozinha
E o cachorro amarrado
Eu levava ela prum lado
E uma cuia de farinha
O pai da aviação
Por nome Drumon Andrade
Sem dó e nem piedade
Se atracou com Lampião
Na bainha um facão
Na matula um castiçal
Gritou pra São Nicolau
Acuda-me nessa hora
Disse isso e foi-se embora
Deixando um cartão postal
Por causa da Ditadura
O Brasil foi descoberto
Um navio chegou perto
Da curva da ferradura
Dom Pedro fez a leitura
Na borda da ribanceira
Cabral trouxe uma cadeira
Sem dó e sem ter clemência
Proclamou a independência
Diria assim Zé Limeira
No dia em que eu falecer
Peço pro povo velante
A noite toquem um berrante
Botem pinga pra beber
Espero comparecer
Virgulino Lampião
Patativa e Gonzagão
O dono da Coca-Cola
Mais Pelé o Rei da bola
E o pai da aviação
(Zé Roberto)
Esse texto é ótimo! É Zé Limeira cagado e cuspido! Parabéns!!!!
ResponderExcluirObrigado Antonio, quando conheci os versos de Zé Limeira, me apaixonei e gosto de "brincar" com o absurdo.
ExcluirNasci na era mesóica
No ano de vinte e sete
Eu mais Chica Maridete
Garramo tocá trombóica
Ela bastante zaróica
Não via nem "déis centimi"
Fez dueto com Caimi
Mas pegou cancimicose
Morreu de lepraculose
Dentro dum murudiarrimi
(Zé Roberto
Eita! Que eu tô quase acreditando em reencarnação! Se Zé Roberto tiver mais gostaria de ver... por favor! Sou fã de Zé Limeira, o Camões do absurdo.
ResponderExcluirUm dia eu tava na feira
ResponderExcluirComprando um couro de bode
Chegou quarenta alemão
Fizero logo um pagode
Me preguntaro Pruquê?
Eu dixe talvez prumode