Poetisa de
excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina (em
que alguns críticos encontram dom-joanismo no feminino). A sua poesia, mesmo
pecando por vezes por algum convencionalismo, tem suscitado interesse contínuo
de leitores e investigadores. É tida como a grande figura feminina das
primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX.
Os Versos que fiz
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem para dizer!
São talhados em mármore Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer!
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda.
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não fiz!
Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
Florbela Espanca
Chama quente
Gosto de
ti apaixonadamente
De ti, és a vitória, a salvação
De ti, que me trouxeste pela mão
Até o brilho desta chama quente.
A tua linda voz de água corrente
Ensinou-me a cantar... é essa canção
Foi ritmo nos meus versos de paixão
Foi graça no meu peito de descrente.
Bordão a amparar minha cegueira,
Da noite negra o mágico farol,
Cravos rubros a arder numa fogueira!
E eu, que era no mundo uma vencida,
Ergo a cabeça ao alto, encaro o sol!
Águia real, apontas-me a subida!
De ti, és a vitória, a salvação
De ti, que me trouxeste pela mão
Até o brilho desta chama quente.
A tua linda voz de água corrente
Ensinou-me a cantar... é essa canção
Foi ritmo nos meus versos de paixão
Foi graça no meu peito de descrente.
Bordão a amparar minha cegueira,
Da noite negra o mágico farol,
Cravos rubros a arder numa fogueira!
E eu, que era no mundo uma vencida,
Ergo a cabeça ao alto, encaro o sol!
Águia real, apontas-me a subida!
Florbela Espanca
Ouça Este Soneto Musicado
Por Raimundo Fagner
Cantigas e Cantos
Lindo. Lindo.Parabéns.
ResponderExcluirLindo! Na voz do grande Fagner!
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