Começou a escrever versos aos 15 anos de idade, influenciado pelo pai
(que cantava cordéis, enquanto trabalhava na roça), pelos vencedores de folheto
de feira e pelo violeiros nordestinos.
Publicou três livros de poesia: Retratos do Pajeú, em 1984; Mais um baú
de retalhos, em 1995; e Fim de feira, em 2006.
Mestre da poética pajeuzeira, Dedé foi citado ou teve poemas seus
publicados em: Na senda do lirismo – de Jô Patriota (1984); Tabira e sua gente
– de Nevinha Pires (1995); Cantadores, prosas sertanejas e outras conversas –
de Zé Marcolino (1987); Dicionário bibliográfico de poetas pernambucanos, de
Lamartine Morais (1993); Tabira, histórias e estórias – de Nevinha Pires
(1998); poetas encantadores – de Zé de Cazuza (2001); Pinto Velho do Monteiro,
o maior repentista do século – de Ivo Mascena (2002); Lourival Batista Patriota
– de Ivo Mascena (2004); As curvas do meu caminho – de Manoel Filó (2004);
Pinto do Monteiro, um cantador sem parelha – de Joselito Nunes (2006); Amores
perfeitos na beira do mar, coletânea de galopes à beira-mar que organizei
(2007) e Palavras ao plenilúnio – de João Batista de Siqueira (Cancão) –
organização de Lindoaldo Vieira Campos Júnior (2007).
Atualmente, Dedé, professor aposentado, escreve poesias e é, conforme
diz, motorista de Teté (sua esposa), servente de pedreiro para o poeta Gonga
(seu irmão) e serve de ‘macaco’ para seus netos Paulo Henrique e Maria Paula.
Fonte: Contadores de Historia
Soneto:
Dupla
Estiagem
Quando Deus
manda, lá por seus motivos,
Dois anos
secos para os sertanejos,
Se os
mesmos anos são consecutivos,
Tombam por
terra todos os desejos.
Pelas
estradas, tristes, pensativos,
Vão-se
arrastando, como caranguejos,
Milhares desses
pobres semi-vivos,
Deixando a
vida sobre seus rastejos.
A nossa
terra, que com chuva é rica,
Faltando a
mesma, desprezada fica,
Tombando a
seca sobre os ombros nus.
O sol
resseca todas as alfombras
E os bichos
brutos vão procurar sombras
Nas sombras
magras dos mandacarus.
( Dedé
Monteiro - 1979)
UMA DÉCIMA
É
nesse tempo, também,
Que faz seus primeiros versos,
Que estão por aí afora,
Extraviados, dispersos...
Versos simples e inocentes,
Que só mostrava aos parentes,
Gente de fora não via...
Mostrava aos de casa, sim,
Porque parente é assim:
Aplaude até porcaria. [...]
Que faz seus primeiros versos,
Que estão por aí afora,
Extraviados, dispersos...
Versos simples e inocentes,
Que só mostrava aos parentes,
Gente de fora não via...
Mostrava aos de casa, sim,
Porque parente é assim:
Aplaude até porcaria. [...]
FIM DE FEIRA
O lixo atapeta o chão
Um caminhão se balança
Quem vem de fora se lança
Em cima do caminhão
Um ébrio esmurra o balcão
No botequim da esquina
O gari faz a faxina
Um cego ensaca a sanfona
E um vendedor dobra a lona
Depois que a feira termina.
Um caminhão se balança
Quem vem de fora se lança
Em cima do caminhão
Um ébrio esmurra o balcão
No botequim da esquina
O gari faz a faxina
Um cego ensaca a sanfona
E um vendedor dobra a lona
Depois que a feira termina.
Miçanga, fruta, verdura,
Milho feijão e farinha,
Bode, suíno, galinha,
Miudeza, rapadura.
É esta a imagem pura
De uma feira nordestina
Que começa pequenina,
Dez horas não cabe o povo.
E só diminui de novo
Depois que a feira termina
Milho feijão e farinha,
Bode, suíno, galinha,
Miudeza, rapadura.
É esta a imagem pura
De uma feira nordestina
Que começa pequenina,
Dez horas não cabe o povo.
E só diminui de novo
Depois que a feira termina
Na matriz que nunca fecha
Muito apressado entra alguém
Mas sai vexado também
Se não o carro lhe deixa
O padre gordo se queixa
Do calor que lhe domina
E agita tanto a batina
Quem que vê fica com pena
Toca o sino pra novena
Depois que a feira termina.
Muito apressado entra alguém
Mas sai vexado também
Se não o carro lhe deixa
O padre gordo se queixa
Do calor que lhe domina
E agita tanto a batina
Quem que vê fica com pena
Toca o sino pra novena
Depois que a feira termina.
A filhinha do mendigo
Sentada a seus pés, num beco,
Comendo um pão doce seco
Diz: papai, coma comigo.
E o velho pensa consigo
Meu deus, mudai sua sina
Pra que minha pequenina
Não sofra o que eu sofro agora
Ria a filha, o velho chora
Depois que a feira termina.
Sentada a seus pés, num beco,
Comendo um pão doce seco
Diz: papai, coma comigo.
E o velho pensa consigo
Meu deus, mudai sua sina
Pra que minha pequenina
Não sofra o que eu sofro agora
Ria a filha, o velho chora
Depois que a feira termina.
Um pedinte se levanta
Da beira de uma calçada
Chupando uma manga espada
Pra servir de almoço e janta
Um boi de carro se espanta
Se o motorista buzina
Um velho fecha a cantina
Um cachorro arrasta um osso
E o pobre “assa vessa” o bolso
Depois que a feira termina
Da beira de uma calçada
Chupando uma manga espada
Pra servir de almoço e janta
Um boi de carro se espanta
Se o motorista buzina
Um velho fecha a cantina
Um cachorro arrasta um osso
E o pobre “assa vessa” o bolso
Depois que a feira termina
Um camponês se engana
Chega atrasado na feira
Não compra mais macaxeira,
Nem batata, nem banana
Empurra a cara na cana
Pra esquecer a ruína,
Arroz, feijão, margarina,
Açúcar, óleo, salada,
Regressa e não leva nada
Depois que a feira termina
Chega atrasado na feira
Não compra mais macaxeira,
Nem batata, nem banana
Empurra a cara na cana
Pra esquecer a ruína,
Arroz, feijão, margarina,
Açúcar, óleo, salada,
Regressa e não leva nada
Depois que a feira termina
No açougue da cidade
Das cinco e meia em diante
Não tem um pé de marchante
Mas mosca tem com vontade
Um faxineiro abre a grade
Tira uma mangueira fina
Rodo, pano, creolina,
Deixa tudo uma beleza
Mas só começa a limpeza
Depois que a feira termina
Das cinco e meia em diante
Não tem um pé de marchante
Mas mosca tem com vontade
Um faxineiro abre a grade
Tira uma mangueira fina
Rodo, pano, creolina,
Deixa tudo uma beleza
Mas só começa a limpeza
Depois que a feira termina
E o dono da miudeza
Já tendo fechado a mala
Escuta o rapaz que fala
Do outro lado da mesa:
- Meu senhor, por gentileza,
O senhor tem brilhantina?
Ele diz com voz ferina:
- Aqui na mala ainda tem
Mas eu não vendo a ninguém
Depois que a feira termina
Já tendo fechado a mala
Escuta o rapaz que fala
Do outro lado da mesa:
- Meu senhor, por gentileza,
O senhor tem brilhantina?
Ele diz com voz ferina:
- Aqui na mala ainda tem
Mas eu não vendo a ninguém
Depois que a feira termina
Um jumento estropiado,
Magro que só a desgraça,
Quando vê que a feira passa
Vai pra frente do mercado
O endereço ao danado
Eu não sei quem diabo ensina
Eu só sei que baixa a crina
Entre as cinco e as cinco e meia
Lancha, almoço, janta e ceia
Depois que a feira termina.
Magro que só a desgraça,
Quando vê que a feira passa
Vai pra frente do mercado
O endereço ao danado
Eu não sei quem diabo ensina
Eu só sei que baixa a crina
Entre as cinco e as cinco e meia
Lancha, almoço, janta e ceia
Depois que a feira termina.
Assista Ao Vídeo: Dedé Monteiro e Bruno Lins
Poesia extraída do DVD - Grupo Fim de Feira
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