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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

segunda-feira, 25 de março de 2013

MÚSICA: Recife revela cena musical da periferia

Na capital pernambucana, músicos como JuveNil Silva misturam influências e produzem a si mesmos

 
JuveNil Silva gravou seu disco aos 27 anos, antes que fosse tarde
Foto: Divulgação/ Priscilla Fabrício

RIO - Recife volta a vibrar. Mas numa outra frequência, que não tem nada a ver com os tambores do maracatu, o toque frenético de caixa do frevo ou o bum-bum-bum da zabumba do forró. A palavra de ordem do mais novo movimento musical na cidade é velha: desbunde. A psicodelia do Pink Floyd inicial, com o folk guerrilheiro de Bob Dylan e as pirações nordestinas dos anos 1970, de Lula Côrtes, Zé Ramalho, Raul Seixas e Ave Sangria dão o ponto de partida para uma série de artistas solo que despontam, via internet, dos subterrâneos da cidade. Nomes como os de JuveNil Silva, Jean Nicholas, German Ra, D’Mingus e Matheus Mota, que se aproveitam dos notebooks e placas de som para gravar a sua produção caudalosa, experimental, e escoá-la em Soundclouds.
O grande aglutinador da cena é JuveNil Silva, que no primeiro dia do ano liberou para download o seu primeiro álbum, “Desapego”. Ex-guitarrista da banda de rock Canivetes, hoje na Dunas do Barato, de MPB, ele sintoniza Raul, Arnaldo Baptista e Beatles em canções como “Hitchcock rock”, “Pomba-gira violeta” e “Meu freeweeling do Bob Dylan” — essa, feita para a tia que, numa rusga, quebrou seu LP mais caro.
— Eu sempre fui compositor, fazia as músicas para as bandas, e o pessoal cantava — relata JuveNil. — Um dia, me falaram que eu interpretava as minhas músicas de um jeito que tinha mais feeling, que era mais real. Eu era do contra, não queria gravá-las. Mas aí percebi que estava ficando chato com esse papo. Vi que ia fazer 27 anos e que poderia morrer a qualquer momento... Aí entrei na vibe de deixar a minha marca, mesmo que seja para poucos.
Daí saiu “Desapego”. Um disco feito sem ensaios, com alguns músicos amigos (entre eles, Jean Nicholas, D’Mingus e Matheus Mota), aproveitando a promoção de um estúdio.
— Não parei para pensar em nenhum arranjo. Gosto de me botar numas roubadas — conta o cantor, para quem “banda é um negócio muito complexo, todo mundo quer dar opinião”.
O nome JuveNil veio dos tempos em que era adolescente e gostava de fuçar discos dos anos 1970 em sebos e andar só com pessoas mais velhas. Entre elas, o cantor Lula Côrtes, falecido em 2011, que em 1975 gravou com Zé Ramalho em Pernambuco um clássico do folk-psicodélico nacional, o LP “Paêbirú. É na onda desse disco, acústico e místico, que ele pensa em fazer o seu próximo, com voz e violão de duas cordas.
Ressaca do mangue bit
Colega de JuveNil no subúrbio de Areias, Jean Nicholas, de 31, chegou a ter com ele uma banda de rock. Solo, foi fazer folk estilo anos 1970, em canções como “Tal visão”. Há cinco anos, porém, ele tem o Jean Nicholas e a Bueiragem, que se prepara para lançar o seu primeiro álbum.
— A nossa proposta musical era a diversidade. Por causa do mangue bit, chegou uma época aqui em Recife em que toda banda tinha que ter alfaia (um dos tambores do maracatu). Acabou rolando uma ressaca. Depois, veio aquele monte de bandas querendo soar como os Strokes — conta Jean. — Mas esse pessoal indie era mais classe média alta. E nós, da periferia, do rock.
Com JuveNil, Jean começou a promover, sete anos atrás, um festival para divulgar essa cena maldita do Recife: a Noite do Desbunde Elétrico (o próximo é no dia 18 de maio). Hoje, Jean continua psicodélico e folk, só que incorpora ao seu trabalho eletrônicas, rap e afrobeat (“Tenho uma visão mais crítica do passado”, alega).
Integrante de uma das bandas que participaram desse festival, a Sabiá Sensível, o cantor e guitarrista Germano Rabelo, 33, também partiu para o seu projeto solo. O German Ra, com o qual planeja lançar ainda este ano o seu primeiro álbum, “Rostinho bonito”.
— Tenho uma ligação muito forte com a composição, por isso acabo não fazendo muitos shows — diz ele, que jogou no seu Soundcloud (https://soundcloud.com/germanra) um punhado de canções como “Te amo Itamaracá”, “Frevo do Perdido” e “Restart Zigurate”, que, sim, fala do grupo de rock adolescente de grande sucesso.
— Eu estava num encontro da Nova Consciência em Campina Grande e comecei a pensar em como a civilização atual é efêmera, descartável. Aí, pensei em juntar o Restart, a Babilônia e os Fenícios — explica Germano, que grava seus rocks rurais e lisérgicos em casa, na base do faça-você-mesmo. — Gravei até instrumentos que não sabia tocar direito, como a bateria.
Se JuveNil Silva é o agregador do Desbunde Recifense, Domingos Porto, o D’Mingus, de 33, é o gênio de estúdio. Guitarrista, flautista e produtor, ex-integrante da banda de post-rock Monodecks, ele fez o disco mais ambicioso da cena, “Canções do quarto de trás”, um pequeno e muito bem polido diamante de folk barroco, que pode remeter tanto ao grupo inglês Renaissance quanto ao Quinteto Violado.
— Criei um estúdio caseiro e vi que o pessoal estava cheio de ideias. Aí, chamei-os para gravar — conta Domingos, que montou o selo Pé de Cachimbo Records, pelo qual lançou seu disco e outros, como a trilha sonora do filme “O ano passado em Itamaracá” (da qual participou, junto com German Ra). — Esteticamente, existe um certo embate ideológico entre os artistas da cena. Mas, paradoxalmente, todo mundo toca com todo mundo.
Carioca criado em Recife, o tecladista Matheus Mota, de 25, é ativo na turma (tocou baixo com o Sabiá Sensível, participou das gravações do “Desapego”), mas é aquele cujo trabalho tem menos semelhanças com os dos amigos. Lançado no ano passado, o seu álbum de estreia, “Desenho”, é quase jazzístico, com canções de temática mais urbana, como “Escola” e “Avenida”. Matheus conheceu JuveNil em 2008 e logo depois se animou a gravar suas músicas em casa mesmo, no laptop.
— Todo mundo aqui é amigo, o pessoal meio que se ajuda — reconhece Matheus, que prepara um novo disco mais ou menos nos mesmos moldes de “Desenho”, para lançar ainda em 2013. — Só não sei se o povão que pula no Carnaval ouvindo Chico Science vai curtir muito as minhas músicas...
— O que liga realmente a galera é a vontade de experimentar, de fazer som autoral — analisa Germano Rabelo. — Esse lado folk, mais Bob Dylan, que boa parte de nós tem, veio pelo simples fato de que muitas das vezes só tínhamos um violão para nos expressar. 

Silvio Essinger
O Globo

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