
Antônio Gonçalves da Silva (Assaré - CE, 1909 - idem 2002). Frequentou a escola por apenas quatro meses, em 1921, mas desde então vem "lidando com as letras", como ele mesmo afirmou. Agricultor, em 1922 já atuava como versejador em festas, e a partir de 1925, quando comprou uma viola, deu início à atividade de compositor, cantor e improvisador. Em 1926 teve um poema publicado no Correio do Ceará, mas seu primeiro livro, Inspiração Nordestina, seria lançado trinta anos depois, em 1956. Em 1978 publicou o livro Cante Lá que Eu Canto Cá, e em 1979 iniciou, com Poemas e Canções, a gravação de uma série de discos, entre os quais se destacam Canto Nordestino (1989) e 88 Anos de Poesia (1997). Seu último livro, Cordéis-Patativa do Assaré , é de 1999. A poesia de Patativa, que verseja em redondilhas e decassílabos, traduz uma visão de mundo "cabocla", muitas vezes nostálgica e desapontada com as mudanças trazidas pela modernidade e pela vida urbana. Sua obra aborda os valores e os ideais dos camponeses do interior do Ceará, em poemas que tematizam da reforma agrária ao cotidiano dos sertanejos cearenses.
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío.
De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte
Cantigas e Cantos
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