segunda-feira, 8 de junho de 2015

JOVEM GUARDA 50 ANOS: Bobby de Carlo foi pioneiro e estrela da era da Jovem Guarda

Ele gravou seus principais discos pela pernambucana Ronzenblit


O tijolinho Bobby de Carlo / divulgação

O tijolinho Bobby de Carlo

divulgação


"Você é meu amorzinho/ você é meu amorzão/ você o tijolinho/ que faltava em minha construção". Os versos de Tijolinho são um clássico da era da jovem guarda, gravados por Bobby de Carlos, em 1967 pelo selo Mocambo, da gravadora pernambucana Rozenblit, que o contratou depois que ele deixou o grupo The Vampires e voltou à carreira solo. "Eu e Sérgio de Freitas, radialista e programador musical aqui de São Paulo (um grande amigo e incentivador), procuramos dentre algumas gravadoras retornar ao cenário artístico, isto em 1966, e conseguimos assinar com a Mocambo lançando o Tijolinho. Conheci bem José Rozenblit. Estive em Recife por várias vezes, inclusivo almocei em sua casa, Lamento, não sabia de seu estado físico, há muito tempo perdi contato com ele", conta Bobby de Carlos, como aconteceu sua contratação pela Rozenblit, pela qual seus dois LPs nos anos 1960.

Este mês ele completa 70 anos. "Um pouco mais velho, não imaginava chegar a tanto. Mas, com a graça de Deus, estamos muito bem", diz Bobby, cujo nome de batismo é Roberto Caldeira dos Santos, nascido em São Paulo, onde mora até hoje. Embora tenha tido seus maiores sucessos na época do iê­ iê­iê, Bobby de Carlo começou quatro anos antes, de agosto de 1965, quando foi ao ar a primeira edição do programa Jovem guarda. Ele foi descoberto por Tony Campello cantando numa festinha. O irmão de Celly Campello gostou e prometeu que lhe conseguiria um teste na Odeon, onde gravou, aos 15 anos, seu primeiro sucesso, Oh Eliana: "Foi o primeiro disco, ainda em 78 rpm pela Odeon. Gravei ainda mais dois 78 rpm, depois enveredei pela musica instrumental, retornado ao canto em 1966 com o Tijolinho pela gravadora Mocambo sediada no Recife. Foi a primeira gravadora totalmente nacional", recorda Bobby.


O período instrumental de que fala é referente à época em que integrou o conjunto The Vampires. Nos dois anos dos Beatles entrarem em cena influenciando cenas de rock mundo afora, a chamada música jovem estava dominada por adolescentes de ar inocente, que interpretavam baladas românticas, ou por conjuntos como os Ventures ou Shadows, que emplacaram sucessos como Apache e Telstar, o que se convencionou rotular de surf music. Bobby de Carlo foi um dos fundadores de um dos grupos originais de surf music no Brasil, os Vampires: "A coisa toda começou em tom de brincadeira juvenil. Formamos os Vampires, eu e o Primo. Convidei o José Paulo, que convidou Jurandy e criamos os Vampires. Com minha saída e entrada do Gato, o nome do conjunto mudou para Jet Blacks", resume o cantor.


O Jet Black foi o mais importante conjunto instrumental da jovem guarda, e Gato (José Provetti, 1941­1996) foi um dos poucos guitar hero da era do iê­iê ­iê. Depois do Jet Black, tocou vários anos com Roberto Carlos. O guitarrista Bobby de Carlos partiu novamente carreira solo, e demorou um pouco para emplacar, levando as publicações especializadas de então especular sobre seu paradeiro: "Bobby de Carlo está sumido. Os amigos dizem que ele não quer mais saber de cantar", escreveu a Revista do Rádio (18 de maio de 1963). A publicação refletia a pergunta das fãs do cantor, que só voltaria a gravar quase cinco anos depois. Mais de 50 anos depois ele explica: "Saí do grupo 1961, e gravei o Tijolinho em 1966.

Nesse espaço, atuei mais como músico, com o trio do Mario Edson (piano), Beto (bateria) e eu tocando baixo acústico, o famoso rabecão. Depois toquei guitarra com o Bossa News, com Ronaldo (bateria), Arnaldo (órgão), Darcy (baixo) e em algumas vezes o Nestico (sax). Nestico tocou nos Jet Blacks e com o Roberto no RC 7". Os dois anos em que gravou na Rozenblit foram os mais bem sucedidos de Bobby de Carlos, coincidiram com o apogeu e o declínio do programa que se tornou movimento, sem passeatas ou manifestos. Ele além de ser um dos ídolos jovens mais populares do País, participou de dois dos mais importantes daquela fase: "Em 66, com o sucesso de Tijolinho, fui contratado pela TV Record para participar do programa do Ronnie Von aos sábados, O pequeno mundo de Ronnie Von. Depois de algumas participações, fui convidado a fazer parte do programa Jovem guarda. Fui um privilegiado por fazer parte dos dois programas".

Claro que astros do disco não se limitavam as esses programas específicos. Ele esteve várias vezes no A discoteca do Chacrinha: "Participei de vários programas do Chacrinha principalmente no Rio, onde conheci seu irmão Jarbas Barbosa, grande produtor cinematográfico, que me convidou a participar(cantando) do filme Adorável Trapalhão, com Renato Aragão. Depois fiz uma ponta como Paulinho, guitarrista da Beth (Wanderléa) no filme Juventude e ternura". À pergunta sobre se as pessoas que participavam do Jovem Guarda tinham ideia da importância do que acontecia ou se gravadoras ajudavam seus contratados a participarem, Bobby de Carlos comenta que, apesar de toda badalação em torno do programa, ele era apenas a continuação do que já acontecia na TV:
"Interessante é que nada daquilo que aconteceu, digo o movimento da Jovem guarda, foi programado. Eu, pelo menos, não fazia ideia do que acontecia em todo o território nacional. O programa em si não tinha nada de especial. Era somente musicas, com cantores e conjuntos que tocavam nas rádios. Era uma forma de se ver o que se ouvia nas rádios".

José Teles
JConline

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