Poeta apresenta Alma Henning e publica paródia de Cadela emplumada, de Aymmar Rodriguéz
Raimundo de Moraes diz que escrever sob heterônimos o deixa exausto
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Poucos autores contemporâneos têm o fôlego e a coragem de criar heterônimos. O pernambucano Raimundo de Moraes é um desses poetas que, à maneira de Fernando Pessoa, o mais famoso criador deles, se vale de máscaras para escrever com uma personalidade e uma dicção poética própria e ao mesmo tempo diferente. “Desajustada, provavelmente uma suicida” Alma Henning é a sua mais nova personagem. Ela divide com Aymmar Rodriguéz o livro Coesia(edição do autor, R$ 25). O posfácio é do professor Lourival Holanda.
Comparando as vozes de Aymmar de A cadela emplumada ao João Cabral de Cão sem plumas, vê-se que o heterônimo de Raimundo de Moraes tem uma linguagem mais mordaz. “Aymmar é um iconoclasta. Às vezes fico surpreso com tanto deboche e virulência. Mas não é a primeira paródia que ele faz em relação aos ‘grandes nomes’ da literatura brasileira. No livro Tríade, faz uma paródia de as 3 mulheres do sabonete araxá (de Manuel Bandeira) e outra sobre Motivo, poema de Cecília Meireles”, comenta.
“Desde criança eu gostava de fantasiar, criar personagens. Na idade adulta, fui me sentindo meio antena, esponja. Creio que a literatura e o inconsciente ajudaram na construção desses personagens. Não programei nada, apenas surgiram”, diz. “Semíramis, no início dos anos 1990, quando eu voltei a morar no Brasil”, lembra o poeta, que passou alguns anos estudando em Brighton, no litoral sul da Inglaterra.
Se Semíramis é uma artista plástica, uma bruxa wicca e possui uma escrita mística, Alma Henning surgiu no final dos anos 1990 também dona de uma interessante biografia. Ela seria filha de um casal sueco que fugiu da 2ª Guerra Mundial, numa rota de fuga que passou pela Dinamarca, Noruega, Portugal, Brasil, Panamá e finalmente Estados Unidos.
“A poesia de Alma é uma poesia com voz da década de 1960. Gostaria que os leitores sentissem isso e não fizessem comparações com a produções poética atuais”, clama, chamando atenção que os textos de Coesia são “poemas de despedida”, como estão em Péssimas companhias em Fox Lake Hills.
Alma tem uma personalidade interessante, pois ao mesmo tempo que curte o jazz de Charlie Parker e o blues de Billie Holiday, faz referência à ópera Madame Butterfly e Aída e ao festival de Woodstock. Seus poemas também têm relações com a vida prosaica (uma caixa de Kellogg’s, café e torrada para dois, uma ida ao dentista). Destacam-se The list e Revelações para harpa e oboé. “Creio que é tudo reflexo da solidão.”
Heterônimo mais antigo de Raimundo de Moraes, o mundano Aymmar Rodriguéz é mais lascivo e de personalidade mais forte, atilada. “Encarnei Aymmar (de fato) na década de 1980, recitando nos bares de Olinda. Pode parecer ridículo, mas alguns textos dele não se parecem comigo em nada. Ele é ateu, eu não. Ele é solar, aberto. Eu sou muito fechado, às vezes passo a ideia até de antipatia. Aymmar é o oposto de mim e exige muito de mim enquanto ser humano.”
JConline
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