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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Memória: Papo com Reginaldo Rossi numa varanda em Candeias

Reginaldo Rossi
Em 1999, o pessoal da revista Bizz, então a principal  publicação do Brasil sobre música pop,  me encomendou uma matéria com Reginaldo Rossi, que estava estourado no país inteiro, com um álbum ao vivo.  Marcamos às 12h30, ele chegou perto das 14h. “Estava fazendo rádio”, desculpou-se. Me cumprimentou rapidamente, disse que ia tomar um banho e voltava logo.

Voltou logo, com o almoço: bolachas cream crackers, latinhas de cerveja, e um quitute de boi num prato. Seu almoço. Conversamos durante quase três horas, na varanda da casa onde então morava, a beira-mar em Candeias (à altura da curva do Sesc). Agradeço ao amigo Sérgio Martins, da Veja, que resgatou a história (e postou no Facebook), e que republico, na íntegra, em homenagem um grande artista que se foi hoje.

Reginaldo Rossi Pioneiro do rock brasileiro, ídolo da geração manguebit e cada vez mais popular no Norte/Nordeste, Reginaldo Rei é espontaneamente tudo que Falcão gostaria de ser. Em mais de trinta anos de carreira, ele jamais parou de fazer shows. Fundador, pelos idos de 1965, do primeiro conjunto de rock do Nordeste, o Silver Jets, ele só ficou sem gravar entre 1975 e 1980.

Teve sucessos na Jovem Guarda, viveu boas fases no começo dos anos 70 e na década passada. Mas está impossível em 1999: é prioridade da poderosa gravadora Sony Music, que lançou no fim do ano passado seu primeiro disco ao vivo. Saindo com 250 mil pedidos antecipados, o CD deve ganhar certificado de platina em breve. Será o terceiro da carreira de Reginaldo Rei, como ele é conhecido agora.

Nascido em 1944 (nos Coelhos, bairro pobre do Recife, e criado no Méier, Zona Norte do Rio, ele é atualmente o artista mais popular do Norte/Nordeste. Hoje não há na Bahia banda de trio elétrico que não toque ao vivo seu sucesso Garçon (com n mesmo, foi lançado assim, assim ficou). Nem a Eva da badalada Ivete Sangalo escapa,  Ricardo Chaves até a regravou. “Foi essa canção que me trouxe de volta para esta fase maravilhosa”, agradece.

Por volta de 1983, um cantor recifense pediu-lhe que escrevesse uma música para seu novo disco. O sujeito não apenas estava numa dureza franciscana como ainda por cima descobriu que andava sendo traído. Precisava, portanto, de um sucesso que lhe levantasse o moral e a conta bancária. Reginaldo Rossi fez Garçon, mas o amigo acabou não gravando. Um desses maestros inteligentes disse que era simples demais para ele cantar. Sobrou para Reginaldo mesmo e, desde então, essa corneira sobre um sujeito que toma um pé-na-bunda e vai ao bar se embriagar (garçom, eu sei que eu tô enchendo o saco, mas todo bebum fica chato) só lhe dá alegrias.


Em 1999, o fenômeno deve ir além da Bahia, periga tomar conta do país inteiro. “Hoje me chamam de brega-chique, me chamam de bregastar, chamam de cult, já tá todo mundo achando que o Rossi é cult, não é mais brega”, conta ele na varanda de sua casa espaçosa, à beira-mar, no bairro chique de Candeias, no Grande Recife. Reginaldo se define como um homem de hábitos frugais. Seu prato preferido: “Feijão, arroz e frango,  o pescoço é a parte da galinha que mais gosto. Feijão, arroz e bife. Feijão arroz e calabresa”. Seleide, sua mulher (é casado há 26 anos), acrescenta: “Ele adora comida de lata”. Por comida de lata, entenda-se: sardinha, mortadela e quitute de boi… O cantor aponta os dois Vectras na garagem: “Poderia ter uma Mercedes, uma BMW, mas prefiro um carro assim, médio”.

Pela quantidade de shows que faz por mês, poderia mesmo ostentar um carrão importado: são cerca de catorze, cada um custa 12 mil reais. Reginaldo Rossi, um homem rico? “Olha, eu tenho uma equipe de dezesseis pessoas trabalhando comigo. Graças a Deus, umas quarenta pessoas dependem diretamente do Reginaldo Rossi”. A Sony espera vender um milhão de cópias de Reginaldo Rossi Ao Vivo – Grandes Sucessos. Curioso é que nenhuma das gravadoras que o tiveram antes como contratado havia pensado em gravá-lo ao vivo.

IMPROVISO

E no palco, onde incorpora personagens e maneirismos, é que ele mostra o segredo de seu sucesso. Pode falar à la Roberto Carlos, para logo em seguida repetir trejeitos de Elvis Presley. Entre uma música e outra, conta histórias, piadas, saúda homens, mulheres, rapazes suaves, moças do sapato grande, crianças, e fala barbaridades,  do ponto de vista anatômico, pelo menos, como “homem que é homem tem que babar o saco das mulheres”. A performance, que aparenta ser cuidadosamente estudada, é toda improvisada. “Um amigo meu, músico, falou: Reginaldo seu show é maravilhoso, mas só tem uma coisa ruim, a desorganização. Quatro meses depois, ele me diz: Seu show é maravilhoso. Sabe qual o grande gancho dele? A desorganização.

Reginaldo não ensaia com seus músicos. Mais radical do que Chuck Berry (que nem sequer tem um grupo fixo) , nem ele nem a banda sabem ao certo o repertório que apresentam. A coisa funciona na base da química e, principalmente, da mímica. “Usamos códigos: três dedos para baixo é mi menor, aí faço o sinal que vou entrar nesse tom. Quatro dedos para cima é fá maior. Um dedo para cima é dó maior, um para baixo é dó menor. A banda sabe o tom, mas não da música. No mi menor, tanto posso cantar o Borogodá ou Na Hora do Amor”.

O “borogodá” citado é o onomatopaico refrão de Deixa De Banca, antigo sucesso de Erasmo Carlos no período áureo da Jovem Guarda (versão do rock francês LesCornichons), que Reginaldo Rossi incorporou aos sessenta hits que escolhe para cantar (entre 300 canções gravadas) a cada show. “Essa música foi uma coisa maravilhosa na minha vida. Em 1975, a Som Livre comprou uns tapes meus da Sony e fez um disco. Filmaram um clipe, era pra passar três vezes por dia, mas passavam umas quinze, não tinham mais o que botar. Erasmo tinha gravado em 1965, e Eduardo (Araújo) também. Mas, como estava esquecida, a música pegou”, lembra, entre goles de cafezinho, um de seus raros vícios. Outro deles é uísque com Coca-Cola. “Sou do tempo da Cuba Libre; depois que o rum começou a me fazer mal, mudei para o uísque”.

ROCK AND ROLL

Ele não liga nem para a cor do rótulo. Aliás, lhe desce melhor um uísque nacional do que um scotch red label. O que não entra no seu organismo de jeito nenhum é droga. “Não me imagino dependente de nada, nem de horário. Nos shows eu digo pra meninada (está no disco novo, gravado): Em vez de cheirar cocaína, melhor cheirar a xereca da menina”. O público de Reginaldo tem gente de todas as idades, mas a imensa maioria é de jovens e adolescentes. “Eu fundei o rock aqui em Pernambuco e a meninada descobriu isso”. Ele cursou até o terceiro ano de Engenharia, mas largou tudo pelo rock. Pagou o preço do pioneirismo. “A gente alisava o cabelo para ficar parecendo os Beatles e o pessoal atirava casca de laranja”.

No final de 1965, já partia para carreira solo, esquentando os shows de Roberto Carlos no Recife. Acabou sendo contratado por Geraldo Alves, empresário do próprio Rei. “Fiz uma música chamada O Pão, que foi gravada pelo Sergio Murilo. Quando fui a São Paulo gravar um compacto, mostrei minhas composições e terminei fazendo um LP”, conta. O Pão estourou em 1966, e abriu para o cantor as portas do programa Jovem Guarda. Na década de 70, na explosão da música brega, seu maior sucesso foi Mon Amour Meu Bem Ma Femme. Mas, desde que voltou a morar no Recife, em 1980, é curtido em todas as classes sociais. Faz um show num morro da Zona Norte e, na mesma noite, apresenta-se em um clube privê na Zona Sul. Em Salvador, ano passado, cantou para 78 mil pessoas.

Agora algumas das principais bandas que formam a cena mangue (mundo livre s/a, Querosene Jacaré) mais Lenine e Zé Ramalho gravam um disco-tributo a ele. “É gratificante, prova que estive certo todo este tempo cantando o romantismo. Mas eles escolheram músicas engraçadas. Por exemplo, Complexo De Cachorro (Estava completamente apavorado com um caso que comigo aconteceu/ Deixei meu almoço bem guardado, e o gato lá de casa comeu). Eu hoje morro de rir, mas Roberto Carlos não cantou também O Brucutu?”

O pensamento vivo de Reginaldo:

 Tropicalismo  – Foi um modismo, né? Todo modismo acaba, só o que se mantém é o romântico.  O maior movimento musical brasileiro foi a Jovem Guarda, o pessoal da Tropicália teve de introduzir a guitarra para a coisa colar. Aliás, eles só aceitavam Os Mutantes, um conjunto de rock, porque os Mutantes faziam protesto.

Cultura  – Tenho uma certa cultura, canto bem em inglês, em francês, mas tenho show domingo na praia, aí não posso cantar McArthur Park, nem Ne Me Quitte Pas.Eu gosto de Mozart, de Schubert, de Beethoven. O que sei é que hoje em dia tá todo mundo querendo ser brega. O chique não vende. Tietes  – Estranhei no começo da carreira, principalmente em São Paulo elas eram muito mais libertas (sic). Não acho que hoje mudou muito, não, as meninas da Jovem Guarda já eram terríveis. A gente saía com muitas garotas.

Brega/Chique – Logo depois da Jovem Guarda pintou um movimento, acho que até meio esquerdista, e apareceu a divisão brega/chique. Não consigo entender essa classificação. Se você dissesse ‘queima o quartel’, você era chique, não precisava cantar mais nada. Mas isso só aconteceu aqui. O mundo continuou igual, o Frank Sinatra continuou cantando aquilo, o Charles Aznavour também. Ou você cantava MPB e era chique ou cantava romântico e era brega. Foi quando passei três anos sem gravar, de 1975 até 80 (sic).

Indústria fonográfica  – Isto me foi dito por um diretor da EMI: quem sustentava a gravadora na década de 70 era Reginaldo Rossi, Fevers, Agnaldo Timóteo, José Augusto, Fernando Mendes… E eles gastavam uma verba com Fátima Guedes, que nunca vendeu disco, com Joyce… Existe uma série de artistas que estão na mídia e não vendem nada, têm prestígio, mas dão prejuízo pra gravadora. Antes havia uma isenção de impostos que dava pra sustentar esse quadro, hoje não tem mais.


Pérolas da poesia de Reginaldo Rossi:

Eu conheci um cara Numa festa da pesada lá no Canecão Ele aprontava tanto rolo, tanta confusão Dele me aproximei e ouvi esse refrão Ele dizia: Tô doidão, tô doidão bicho, tô doidão (Tô Doidão)

Hoje eu tive um sonho com Beethoven/ Que me ensinou um truque novo/ Pra fazer essa canção/ Beethoven também era cabeludo/ Desligado e ainda surdo/ Mas foi um grande campeão/ E disse: Reginaldo, vá cantando Sua brasa vá mandando E deixe quem quiser falar Que eu aqui de cima vou torcendo/ E uma figa vou fazendo junto com Haendel e o amigo Bach (O Gênio Cabeludo)

Meu broto está chato demais Diz que eu não sou bom rapaz Vive a falar mal de mim E eu não sou mau assim Se vivo trocando de amo-oor/ É porque sou bom paquerador (O Paquerador)

Quando eu peço amor, ela me dá paz/ Quando eu peço corpo, ela dá demais/ Quando eu infrinjo as leis naturais/ Ela dá de ombros, se oferece mais/ Ela se faz Eva e eu sou Adão/ Ela é Dalila sem traição Jamais dançou como Salomé Ela não quer ser mais que uma mulher (Mulher)

Se você for até Recife Não esqueça da esteira e do chapéu/ Pois as praias e o sol de Recife Mais parecem coisas lá do céu (…)/ Em toda cidade, quanta liberdade A-há/ como tem moça/ E a velha Olinda, que coisa mais linda Como tem moça, como tem moça (Recife) (versão de San Francisco (Be Sure To Wear Some Flowers In Your Hair)
Confiram Reginaldo Rossi e o áudio do seu primeiro sucesso nacional, O pão:

 José Teles

Jornal do Commercio

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