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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Memória: Artista renegado, Itamar Assumpção tem obra em evidência uma década após a morte

Músico considerado maldito que morreu há 10 anos ganha reconhecimento entre os músicos e tem o trabalho regravado por vários cantores


Melhor intérprete de si mesmo, como gosta de lembrar Riba de Castro, diretor do recém-lançadodocumentário Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista, Itamar Assumpção (1949-2003) vive momento de evidência de sua obra. Além de ser um dos homenageados do filme, ele acaba de ganhar disco da amiga e parceira Alzira E (O que vim fazer aqui), por meio do qual a mato-grossense diz encontrar nos poemas do amigo incentivo para a liberdade musical. O álbum se segue a Atento aos sinais, de Ney Matogrosso, que conta com duas composições de Itamar, e ao disco Tudo esclarecido, da amiga e parceira Zélia Duncan, integralmente dedicado à obra do compositor.

“Que maldito que nada!”, reagiria o próprio Itamar diante do interesse crescente por sua obra. Zélia Duncan chega a admitir que há uma corrente que tem ajudado a manter o nome de Itamar Assumpção com o “frescor merecido”. Do lançamento, em 2010, da Caixa preta, com 10 discos de carreira remasterizados e dois inéditos, feitos a partir de registros de voz e violão que o cantor, compositor e instrumentista deixou, passando pelo também documentário Daquele instante em diante, de Rogério Velloso, do ano seguinte, só dá Itamar. 

A filha Anelis Assumpção anuncia para o ano que vem o lançamento, pelo Itaú Cultural, de Itamar Assumpção – Cadernos inéditos, coletânea de textos, letras de músicas e poesias do pai, organizados por ela, pela irmã Serena e pela mãe, Elizena Assumpção. Na opinião do cineasta Riba de Castro, o papel de Itamar na Vanguarda Paulista foi de extrema importância, na medida em que o trabalho dele “era inovador, impecável, pronto e acabado”. 

“Era um artista completo e muito exigente consigo mesmo e com os outros”, acrescenta o diretor do documentário Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista, para quem a exigência em busca da perfeição colaborou na formação de vários artistas. Que o diga a irmã de Tetê Espíndola, Alzira E, que, ao relatar o processo da parceria dos dois, confirma o que diz Riba de Castro. “Mostrava o que tinha até então – em andamento – e ele complementava a letra, entrava nela, vestia a personagem. Assim foi com Azeite e Man, registradas no LP Amme, de 1992, ou com Norte, uma das inéditas do meu CD novo”, relata a cantora e compositora, produzida por Itamar em Amme.

Ela recorda que em outras situações Itamar simplesmente mandava a letra por telefone, fax ou deixava no caderno dela. Tudo virava canção. “Foi assim com Finalmente, Existem coisas na vida, O que é que eu fiz de mal e Chuva no deserto", exemplifica Alzira E. “Às vezes ele pedia que eu fizesse uma parte B na melodia para incluir mais uma estrofe, caso de Mesmo que mal eu diga, ou um refrão, como em Itamar é. O melhor da parceria, de acordo com Alzira, “era a forma complementar em que as composições se davam e a cumplicidade que permeava nossas vidas, nosso cotidiano e amizade, na qual produzimos muito, e, principalmente, o respeito que ele sempre deu a minha música”. 

Consistência 

Para Zélia Duncan, que gravou 11 canções de Itamar antes de dedicar a ele integralmente o repertório de Tudo esclarecido, o que mais chamou a sua atenção no artista foram a inteligência e a consistência do que é dito, junto com a maneira musical extremamente original e surpreendente. “A primeira música dele que cantei foi Fico louco e em seguida Beijo na boca. Não gravei nenhuma das duas, mas são músicas muito importantes para mim, que me instigavam nos anos 1980 e continuam me instigando até hoje”, acrescenta Zélia. Para ela, antes de mais nada, Itamar foi o grande parceiro dele mesmo, além de Alzira E e da poeta paranaense Alice Ruiz. 

Alzira diz que ainda tem parcerias inéditas com o artista. “Algumas estão no novo disco, junto com regravações das canções marcantes na minha carreira nestes 25 anos, tais como Seis dos caminhos e Já que tem que”, lista a cantora mato-grossense. Anelis Assumpção, que também é cantora, seleciona repertório para disco a ser gravado no ano que vem. Em Sou suspeita, estou sujeita e nem sou santa, que marcou a estreia dela, Anelis gravou A mulher segundo meu pai. “Tenho o desejo de sempre cantar canções de meu pai, de tê-lo comigo. Cogito escolher uma canção entre as que mais gosto ou guardá-la para cantar no show”, afirma Anelis Assumpção, que tem músicas inéditas de Itamar

“Acho que é muito natural quando uma pessoa falta e deixa um legado intelectual – não suficientemente acessado – pelo qual as pessoas se interessem”, avalia a filha de Itamar Assumpção. Ela lembra que Itamar era uma pessoa muito lúcida e coerente, que tinha consciência de que ele seria um artista póstumo. “Ele sabia um pouco disto e talvez até fizesse desta forma”, acrescenta Anelis. “Infelizmente, há muito artista, cientista e outros profissionais que demoram a ter reconhecimento”, diz a filha de Itamar, lembrando a primeira década da morte do pai.
Teatrais, rítmicas, profundas e divertidas, as canções do artista funcionam tanto no estúdio quanto no palco, de acordo com Zélia Duncan. Ele lembra que Cássia Eller, Ná Ozzetti e outros intérpretes também se apaixonaram pela obra de Itamar Assumpção, que cantaram e gravaram. Zélia não esconde sequer o desejo de ter sido uma das Orquídeas do Brasil, banda de Itamar integrada apenas por mulheres, além de detectar a porção buarquiana na obra do compositor em canções como quem Que canta seus males espanta, que ela gravou no disco Eu me transformo em outras.
Palavras  de parceiros

“Conheci o Itamar por intermédio de meu irmão, Paulo Barnabé, que sempre foi um elo muito forte entre a gente, pois conseguia tocar minhas músicas e as dele também. Foi ele que nos aproximou. Além da temática, crua e marginal, de sua música, me sentia atraído pela riqueza rítmica e pelas performances de Itamar, que foi mais meu amigo do que parceiro. Acho que tenho alguma coisa que comecei a fazer com letra dele e nunca terminei. Volta e meia me lembro disso. Preciso procurar nos meus papéis.”
Arrigo Barnabé, músico 


“Nos conhecemos em 1983, quando Itamar foi fazer um show em Curitiba, onde eu morava. Ficamos amigos imediatamente e eu o presenteei com meu primeiro livro, Navalha na liga. Imediatamente, ele juntou alguns poemas curtos e musicou, dando o mesmo nome do livro. A nossa parceria funcionava de várias formas. Inicialmente, ele musicava poemas de livros meus, mas passei a enviar letras a ele e depois a viajar para encontrá-lo e compormos juntos.”
Alice Ruiz, poeta


Três perguntas para...
Riba de Castro - cineasta


Qual foi o papel e contribuição de Itamar Assumpção para a Vanguarda Paulista?

O papel do Itamar foi de extrema importância, já que seu trabalho era inovador, impecável, pronto e acabado. Era um artista completo e muito exigente consigo mesmo e com os outros. Essa exigência em busca da perfeição colaborou na formação de artistas que trabalharam com ele. Se você perguntar a Alzira E sobre o Itamar, ela vai dizer que aprendeu com ele tudo que sabe de palco e, inclusive, a compor. Sua contribuição para o movimento está na qualidade do seu trabalho e por ter deixado uma grande obra gestada em um curto período de existência. Além de ter mantido sempre a independência na produção de seus discos, sem deixar seduzir-se pelas grandes gravadoras. 

Em que posição Itamar Assumpção tem peso maior: como cantor ou como compositor?

Como compositor, sem a menor dúvida. Era um grande letrista, músico e arranjador. Era capaz de refazer seus arranjos em cada novo show. Claro que também foi o melhor intérprete de si mesmo. 

Até que ponto a negritude contribuiu para fazer dele um compositor singular no movimento da Vanguarda Paulista?


A sua negritude está plasmada na sua obra. Ele tinha a consciência de sua condição de negro e havia sofrido preconceito. Não em vão, sua primeira banda se chamava Isca de Polícia. Seu primeiro disco Beleléu, gravado pelo selo Lira Paulistana, com a música Nego dito, reafirmava a sua negritude.

Ailton Magioli - EM Cultura

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