Para rever uns parentes
Fui visitar meu sertão.
Foi gostoso o reencontro
Mas, grande a decepção
Por constatar de pertinho
Perversa transformação.
Grande mal venha trazendo
Quem muito bem não discerne
Escutando aquilo e vendo
O que não eleva em nada
Sempre fica absorvendo.
Ninguém vê mais na calçada
À noite os vizinhos juntos
Contando estória, piada…
Tá tudo dentro de casa
E a televisão ligada.
Na casinha mais singela
Sendo no horário noturno
Os donos dão pouca trela
Não querem ser perturbados
Olhando a tal da novela.
O cavalo aposentado
A moto hoje é o transporte
Pra passeio e pro roçado
Pra ira à feira e à missa
Botar água e tanger gado.
Do sertão o dia-a-dia
Na fazenda já não tem
Queijo nem coalhada fria
Vendem o leite. E pro café
Compram pão na padaria.
Do sertão de antigamente
Quando não tinha novela
Que mostra coisa indecente
E a gente se deleitava
Com cordel e com repente.
No sertão já não tem mais
As brincadeiras ingênuas
Dos terreiros e quintais.
Tá farto de violência
Porém, carente de paz.
Um cenário de beleza
Só se vê naqueles ermos
Desolação e tristeza
Como resposta às perenes,
Agressões à natureza.
Pois queimaram a caatinga,
Invernos irregulares,
Quase não chove, mal pinga,
Eis a prova incontestável
Que a natureza se vinga.
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