SAUDADE DO CANTADOR ZÉ MARCOLINO
Hoje, acordei com saudade das antigas noitadas em São
José do Egito, ouvindo, durante as boemias poéticas musicais, o mestre Zé
Marcolino. Desde cedo que estou ouvindo seus clássicos. Vai abaixo um texto e
um poema que eu fiz algum tempo atrás sobre o poeta.
Eu tive a feliz oportunidade de conviver com o saudoso
poeta Zé Marcolino. O cantador caririense teve seu mundo de maior existência
entre o Pajeú pernambucano e o Cariri paraibano, sempre levando o canto e a
poesia ao povo de ambas as regiões. Fidalgo, Educado, Amigo, Atencioso e
comprometido com o Sertão Nordestino, Marcolino foi o estandarte da música de
duas regiões onde verteram os mais famosos cantadores de viola do Nordeste. De
voz grave e feições de caboclo sério, Marcolino era a suavidade de um alma
bondosa e de uma alegria de menino, sempre presente na sua forma de poeta da
terra. Não fez uso "profissional" como cantor, tendo apenas gravado
um cd (capa acima) produzido e arranjado pelo "Quinteto Violado". O
vate/cantador paraibano alimentou a carreira musical de Luiz Gonzaga com grande
clássicos que hoje estão imortalizados no cancioneiro popular, como: Sala de
Reboco, Cacimba Nova, Serrote Agudo, A dança de Nicodemos, Caboclo Nordestino e
tantos e tantos outros clássicos identificados na voz do "Rei do
Baião" e de demais cantores, cantoras, intérpretes e cantadores do
Nordeste e outras regiões do Brasil. Seu instrumento musical era uma caixa de
fósforo, tanto para se acompanhar como para compor. O que mais impressionava
era o autodidata Marcolino, compondo baiões, xotes, rasta-pés, samba de latada,
forrós e lindas canções, as quais louvavam desde uma "Pedra de
Amolar" até uma professora através da linda metáfora "Rolinha
Branca". Escutar Marcolino na sua voz grave, de barítono, ou na grande voz
do velho Lula Gonzaga e demais cantores e cantoras nordestinas, nos remete ao
Sertão na sua mais pura forma de ser. Nas melodias de Marcolino encontra-se o
Sertão alegre nas chuvadas invernosas; na poesia do mestre caririense vê-se uma
grande fazenda que outrora foi palco e reino de grandes festas de vaquejadas;
no lirismo de Marcolino percebe-se a figura humana na delicadeza de uma
"Rolinha Branca", andando e catando pedrinhas pelo chão; no canto
lunar do poeta paraibano, vemos o cantador sentindo "Ciúme da Lua",
quando os astronautas pisaram no corpo de bela senhora lunar, senhora esta,
inspiração e musa de todos os poetas do mundo; enfim, Marcolino nos deixou um
legado de canto e poesia que ecoa pelos quatros cantos do Brasil. Hoje,
encontra-se no solo paraibano e pernambucano a comunicação de vários sertanejos
que tratam uns aos outros de Poeta. Isso, foi criado pelo nosso saudoso Zé
Marcolino. O poema abaixo, de minha autoria, foi adaptado e musicado pelo
compositor potiguar Galvão Filho, sobre a forma de uma belo Xote. No ano de
2008 o cantador Santana o gravou no seu cd "Forró - a arte do
abraço".
SAUDADE DE MARCOLINO
Marcolino, poeta cantador,
A “Cacimba” secou de tanto pranto
O “Carão” não escuta o teu canto
“Sabiá” padeceu de tanta dor.
O “Ciúme da Lua” se acabou
Hoje vives morando perto dela
Desenhando teu canto numa tela
Seduzindo-a com tua serenata
Despertando seu riso cor de prata
Num desenho de linda aquarela.
O “Serrote Agudo” está tristonho
O “Fura-Barreira já não tem mais casa
“Maribondo” já bateu a sua asa
O “Sertão de Aço” perdeu seu sonho.
Só os vates de cima estão risonhos
O teu canto é a “Saudade Imprudente”
Que machuca o sertão que há na gente
Como o pranto na “Mágoa de um Vaqueiro”
Que tristonho, num banco do terreiro,
Faz aboios saudosos e dolente.
Oh! Poeta “Caboclo Nordestino”
As caboclas “cintura de abelha”
Soltam prantos em forma de centelha
Com saudades do canto campesino.
A “cantiga do vem-vem” pequenino
Sobre os galhos da “Flor do Cumaru”
Faz sentir Cariri e o Pajeú
A saudade das noites de São João
Ou as tardes tristonhas do sertão
Entre os cantos dolentes do nambu.
Hoje já não se faz a mesma dança
“Nicodemos” partiu pra outros cantos
Não se encontram mais os mesmos recantos
Duma “Sala de Reboco” com pujança.
A saudade dos “Tempos de Criança”
A “Rolinha” com passos delicados
Um poeta com sonhos encantados
Numa “Estrada” pisando no destino
Pra partir nos deixando um lindo hino
Através dos seus cantos coroados.
Gilmar Leite
Poeta e Professor
Fonte: Facebook do Autor
CANTIGAS E CANTOS
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